Passos Coelho e António Costa são políticos muito diferentes e com discursos diferentes. Acha que os portugueses se identificam mais com o discurso de António Costa?
Os momentos são muito diferentes. O Governo de coligação PSD/CDS estava amarrado a um plano de resgate com poucas oportunidades para respirar e para dar boas notícias ao país. Hoje em dia a realidade é completamente diferente. Mas penso que os portugueses já dão muito valor ao trabalho realizado pelo dr. Passos Coelho, porque perceberam as dificuldades que existiram para governar naquelas condições.
Mas os portugueses parecem estar satisfeitos com a chamada ‘geringonça’, que surgiu para afastar a direita do poder.
António Costa recebeu uma herança muito positiva e praticamente só tem boas notícias para dar às pessoas. Mas há muitas lacunas e o Governo foge às suas responsabilidades em questões fundamentais. Os incêndios em que morreram pessoas, o caso de Tancos…
Essas situações não têm penalizado a popularidade do Governo ou, pelo menos, não beneficiaram a oposição. Porquê?
Não. As pessoas ainda estão iludidas. Mas os portugueses vão começar a fazer comparações entre o antes e o depois e vão perceber, por exemplo, que estamos a piorar a nível dos serviços públicos. Há cada vez mais necessidades básicas nos nossos hospitais e nas nossas escolas. Está a mascarar-se a realidade do país e é essa realidade que o PSD deve combater.
O PSD não tem feito uma oposição fraca a este Governo?
Tem sido difícil, neste contexto, passar a nossa mensagem política. O PSD e o CDS têm sofrido isso na pele porque as coisas têm corrido bem ao Governo e a população está anestesiada. As pessoas parece que continuam adormecidas. A população portuguesa sofreu bastante no período da troika e isso teve custos para os partidos do arco da governação.
O Presidente da República prevê uma crise na direita nos próximos tempos. Julga que ele se excedeu e prejudicou o PSD?
O professor Marcelo Rebelo de Sousa é alguém que faz política há muitos anos e conhece bem a realidade portuguesa. Não digo que ele não tenha sempre como objetivo a defesa do interesse nacional, mas muitas vezes aparece aos olhos da opinião pública como uma espécie de advogado deste Governo. Os portugueses gostam do estilo dos afetos e da proximidade e agradecem esse trabalho, porque nunca houve esta palavra de proximidade em relação aos que não têm voz, mas o ideal era que o Presidente continuasse a ser afetuoso para a população e menos defensor do governo, sobretudo quando o Governo não tem razão.
Gostava que Passos Coelho regressasse à vida política?
Posso dizer que nunca trabalhei com ninguém que tivesse o caráter e a firmeza do dr. Passos Coelho. Considero-me um passista e como é óbvio gostava que ele voltasse a fazer política de forma ativa. Ainda tem muito boa idade para contribuir de forma ativa para o nosso país. Não sei sinceramente se ele terá essa vontade.
Por que motivo acabou por não entrar nas listas do PSD?
Sou natural do distrito de Viseu, sou militante em Cinfães, a terra onde nasci. Senti que havia essa vontade da direção nacional, mas ao longo destes dois meses de discussão fui notando algumas discordâncias das estruturas locais e distritais e comuniquei à direção nacional a minha indisponibilidade para que o meu nome continuasse a ser alvo de discussão. Não quero ser motivo de desunião e não quero que haja desconforto.