O regresso de Rui Rio ao Parlamento, 18 anos depois, ficou marcado pela troca de acusações com António Costa. Líder da oposição e primeiro-ministro não pouparam nas ‘bocas’ durante o debate de apresentação do programa do Governo, na sessão desta quarta-feira de manhã.
O presidente do PSD começou por criticar a dimensão do Executivo liderado por António Costa, que conta com 70 membros.
"Tem o Governo mais caro da história de Portugal. O seu Governo custa mais dinheiro e é pior", atirou Rui Rio, dirigindo-se ao primeiro-ministro. O líder da bancada laranja sublinhou que seriam mais 50 milhões de euros a sair dos bolsos dos contribuintes, devido ao número de governantes.
O social-democrata fez ainda a piada da eventualidade de um carpinteiro ter de alterar a bancada do Governo na Assembleia da República, para caberem todos os elementos do Executivo.
Costa pareceu ter acusado o toque e respondeu no mesmo tom sarcástico dizendo que Rio – que esteve afastado hemiciclo durante quase duas décadas – não queria ser deputado.
"Percebo porque dizia que era um lugar que não lhe agrada: está aqui a fazer um estágio para ser comentador televisivo", gracejou.
"Eu preocupo-me com a composição do Governo, o senhor que se preocupe com a redução do tamanho do seu grupo parlamentar", rematou o primeiro-ministro, recebendo de volta um sorriso irónico do líder da oposição.
A socialista Ana Catarina Mendes fez questão de se juntar à discussão, usando o tom combativo que já lhe é habitual e que se advinha marcará a sua liderança parlamentar, e acusou Rio de preferir usar "demagogia e insinuação" em vez de "dignificar o debate do programa de Governo".
"Espera-se mais de um líder da oposição, espera-se mais de um deputado que esteve nesta casa há 18 anos…", rematou Ana Catarina Mendes.
Mas as críticas de Rio não se ficaram pelo número de governantes, o social-democrata chegou mesmo a destacar um dos membros do Governo para dirigir mais acusações.
O líder do PSD apontou o dedo ao secretário de Estado da Energia, João Galamba, e confrontou Costa com o fato de este ter sido reconduzido no cargo já depois de estalar a polémica com a concessão da exploração de lítio em Montalegre.
"Todos vimos as notícias sobre a exploração de lítio no Norte de Portugal e a concessão a uma empresa que tinha três dias, tinha sede numa freguesia do PS, constituída com 50 mil euros para um negócio de 350 milhões de euros, e concessionou sem estudo de impacto ambiental. A minha questão em relação a esta promoção de João Galamba é se está em condições de dizer a esta câmara e ao país, que no plano legal político e ético o Secretário de Estado agiu bem? Sem qualquer mácula?", questionou Rui Rio.
A resposta de António Costa não se fez esperar, e desafiou o líder do PSD para não fazer do Parlamento um palco para “julgamentos de tabacaria”, uma expressão a que Rio recorreu várias vezes.
O primeiro-ministro atribui ainda responsabilidades, no caso do lítio, ao Governo de Passos Coelho, dizendo que foi o antigo ministro da Economia Álvaro Santos Pereira quem atribuiu a licença à empresa Lusorecursos, que está no centro da polémica.
Por outro lado as insinuações de Rio não colheram resposta só do primeiro-ministro, a própria direção da RTP, estação que transmite o Sexta às 9 que alertou para a polémica, também reagiu à presença do tema no debate no Parlamento desta manhã com a emissão de um comunicado.
A RTP “esclarece, mais uma vez, que a investigação emitida no dia 11 de outubro sobre o lítio apenas ficou em condições de ir para o ar horas antes da sua transmissão”, alegando assim que a suspensão maior do que a inicialmente prevista do formato da estação pública nada teve que ver com a recusa de emissão daquela reportagem em particular durante a campanha para as eleições legislativas.
“A investigação, evocada pelo líder do PSD na discussão do Programa de Governo, não estava concluída durante a campanha eleitoral. A informação da RTP não guarda notícias na gaveta em caso algum. A Direção de Informação da RTPTV jamais tolerará ser utilizada como arma de arremesso político-partidário seja por quem for“, lê-se ainda no comunicado.
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