O ataque a dois veículos do Programa Alimentar Mundial (PAM), que visitava projetos humanitários em Kivu do Norte, na República Democrática do Congo, na segunda-feira, terminou com o assassinato do embaixador italiano, Luca Attanasio, de 43 anos, do carabiniere Vittorio Iacovacci, de 30 anos, e do seu condutor, cuja identidade é desconhecida. Quatro outras pessoas foram feitas reféns – entretanto foram resgatadas – e suspeita-se que o ataque tenha sido uma tentativa falhada de rapto, numa região que está em guerra há décadas e cujos ricos recursos naturais são disputados por inúmeras milícias e rebeldes armados.
Pouco a pouco, os detalhes da tragédia vão-se tornando mais claros. Por volta das 10h30, hora local, os atacantes dispararam tiros de aviso, parando a caravana do PAM, que seguia rumo a uma cantina comunitária na aldeia de Rutshuru, descreveu o governador de Kivu do Norte, Carly Nzanzu Kasivita, citado pelo Guardian.
Os veículos atravessavam o Parque Natural de Virunga, que faz fronteira com o Uganda e o Ruanda e é uma das principais atrações turísticas da região, conhecido pela sua população de gorilas, sempre ameaçados por grupos de caçadores furtivos e milícias que os abatem para se financiarem.
Com os dois veículos imobilizados e o condutor abatido com vários tiros, os atacantes começaram a arrastar os reféns para a floresta. Foi então que guardas-florestais de Virunga – que ainda há semanas perderam seis dos seus colegas numa emboscada – abriram fogo.
Na escaramuça que se seguiu, Attanasio e Iacovacci foram atingidos, enquanto os atacantes se punham em fuga. O embaixador viria a sucumbir dos ferimentos num hospital das Nações Unidas em Goma, deixando mulher e três filhos.
A responsabilidade do ataque ainda está por apurar, mas o Governo da RD Congo já apontou o dedo aos rebeldes das Forças Democráticas pela Libertação do Ruanda (FDLR). Trata-se de um grupo extremista hutu, entre os mais sanguinários de Kivu, formado por génocidaires, ou veteranos do genocídio do Ruanda – em que cerca de 800 mil tutsis e hutus moderados foram massacrados, em 1994 -, que fugiram após a queda do regime.
Desde então que a FDLR se digladia com grupos de tutsis financiados pelo Ruanda, com as milícias locais, ou Mai Mai, e forças governamentais. Trata-se de um conflito confuso em que grupos que se odeiam de morte subitamente subitamente se aliam para voltarem a guerrear em seguida – o certo é que todos são acusados de crimes de guerra, violações em massa e até de canibalismo, alertaram as Nações Unidas num relatório de 2012.
Após o ataque à caravana do PAM, o Governo congolês apressou-se a garantir que será feita justiça. “Prometo ao Governo italiano que o Governo do meu país fará tudo o que pudermos para descobrir quem é responsável por este homicídio ignóbil”, declarou a ministra dos Negócios Estrangeiro da RD Congo, Marie Tumba Nzeza.
Contudo, esta promessa é vista com extremo ceticismo. Não só as autoridades congolesas estão há décadas a tentar controlar as extensas florestas de Kivu como não têm propriamente um grande currículo a lidar com ataques do género. É que o homicídio de dois consultores das Nações Unidas, Michael Sharp e Lambert Mende, em 2017, na RD Congo, continua por resolver, apesar da pressão internacional – e de o crime ter sido gravado e o vídeo ter ido parar às mãos das autoridades.