Por Luís Claro e Henrique Pinto de Mesquita
A Convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL) arranca esta terça-feira e reúne pela primeira vez os líderes dos quatros partidos de direita. A novidade na terceira edição do encontro das direitas, que pretende promover um debate alargado sobre a reconstrução do país, é a participação de Rui Rio no encerramento do evento que se realiza este ano no Centro de Congressos de Lisboa.
A reunião do MEL, mesmo antes de começar, já gerou tensões à direita e à esquerda. Sérgio Sousa Pinto, convidado para debater “a ditadura do politicamente correto”, foi criticado pela esquerda por aceitar participar num encontro em que vai estar o líder do Chega.
A polémica não é nova. Na primeira edição chegaram a ser anunciados os nomes de António José Seguro e Francisco Assis, mas os dois desistiram com o argumento de que o evento se transformou numa espécie de estados-gerais da direita.
O socialista Sérgio Sousa Pinto não recuou e este ano participam também no congresso o ex-dirigente socialista e presidente da SEDES Álvaro Beleza, o empresário e ex-deputado do PS Henrique Neto ou o ex-ministro Luís Amado.
As atenções viraram-se este ano para André Ventura e não é só a esquerda que está descontente com o protagonismo dado ao líder do Chega. O vice-presidente do PSD, David Justino, lamenta que o evento esteja a contribuir para “reconhecer o Chega como uma força política importante” quando tem apenas um deputado na Assembleia da República.
O ex-líder da Iniciativa Liberal, Carlos Guimarães Pinto, também não ficou indiferente com a forma como foram atribuídos os discursos de encerramento. “Espero que no próximo ano mudem o nome de MEL para MAD, ou seja, movimento amalgamar direitas”, diz ao i.
Um dos assuntos que tem trazido mais debate em torno do encontro do MEL é o significado que poderá ter colocar o Chega em pé de igualdade com os restantes partidos.
Rui Rio, Francisco Rodrigues dos Santos e Cotrim de Figueiredo rejeitam que este encontro possa ser o início de uma federação da direita. “Vou lá falar, mas vai muita gente ligada ao Partido Socialista”, disse, em entrevista à RTP, o presidente do PSD, recusando a ideia de que o evento sirva para incentivar uma união entre os partidos de direita.
Paulo Carmona, vice-presidente do MEL, explica que não vê “qualquer federação” a sair da Convenção: “apenas discussão”, remata.
Prossegue, explicando que “na direita há 300 quintas e 500 egos diferentes”, o que leva a que a eventual agregação seja “muito complicada” e algo que não lhes “compita tratar”. Questionado sobre a poeira que a presença do Chega no MEL levantou, explica que, “como liberal, é tolerante” e, por isso, custa-lhe ver liberais a não o ser, principalmente com o Chega: “o senhor foi eleito e é líder de um partido com assento parlamentar. A Constituição não o proíbe”. Por fim, remata: “um liberal intolerante é um paradoxo que custa a engolir”.
Ventura provoca mal-estar
A dirigente da Iniciativa Liberal, Maria Castello Branco, anunciou um dia antes do evento que não irá marcar presença na convenção. A dirigente do partido liberal era keynote speaker e iria, hoje, discutir “Portugal e os Caminhos do Futuro” num painel com outros jovens. A sua principal razão prende-se com o facto de o MEL estar a dar um palco sem oposição a André Ventura. Maria Castello Branco obsta-se a que o MEL dê voz a Ventura sem que as suas palavras possam ser rebatidas de forma a preservar “a defesa de uma direita de rosto humano”.
Questionado sobre esta desistência, Carmona diz ao i que a atitude de Maria Castello Branco revela “imaturidade, irresponsabilidade e falta de educação”, afirmando que a dirigente liberal quer “protagonismo” e se acha a “campeã da moral”. “Ela teve três meses para pensar, isto não se faz”.
A Convenção do MEL arranca esta terça feira de manhã com um debate sobre as relações dos portugueses com o Estado com José Miguel Júdice, Jaime Nogueira Pinto, Luís Amado, Mira Amaral e Rui Ramos.
Da parte da tarde, a deputada do CDS Cecília Meireles, o ex-candidato à liderança do PSD Miguel Pinto Luz e o ex-deputado social-democrata Miguel Morgado discutem “a necessidade de convergência à direita e ao centro”.
O encontro terá onze painéis e conta com a participação de cerca de 700 pessoas durante os dois dias.