Congresso. Costa só está disponível para dialogar com a esquerda

António Costa formalizou candidatura à liderança e afastou diálogo com o PSD. “Há um mundo que nos separa”.

António Costa formalizou esta quinta-feira a recandidatura a secretário-geral dos socialistas. A moção que vai levar ao Congresso do PS, nos dias 10 e 11 de julho, intitulada “Recuperar Portugal, garantir o futuro”, define como prioridade a recuperação económica e garante que a melhor forma de conseguir esse objetivo é manter o diálogo com os partidos de esquerda.

Este é o primeiro congresso do partido depois do fim da geringonça. António Costa não altera a estratégia e continua a apostar no diálogo com a esquerda para assegurar “a estabilidade e as boas políticas de que o país precisa para recuperar e garantir o futuro”.

A moção apresentada pelo secretário-geral do PS elogia a solução encontrada em 2015, porque mostrou que “são possíveis soluções governativas com apoio maioritário da esquerda” e permitiu cinco anos estabilidade governativa, mas alerta que essa estabilidade “é uma condição fundamental para a recuperação económica e social do país”.

Numa altura em que o debate à direita é dominado pelo crescimento do populismo, a moção garante que o PS só está disponível para dialogar com aqueles que “rejeitam a complacência da direita democrática perante uma agenda antidemocrática e xenófoba”.

Depois de entregar a moção na sede do Partido Socialista, António Costa foi ainda mais claro e afastou qualquer hipótese de dialogar com o PSD. “Há um mundo que nos separa”. O líder dos socialistas considerou que é “perigoso” para a democracia a forma como “o PSD se tem deixado aprisionar e condicionar pela agenda do Chega”. A aproximação do PSD a André Ventura até pode favorecer os socialistas, porque “os portugueses não votarão num PSD que anda a namorar com o Chega”, mas para “a democracia é mau”, concluiu.

A estratégia do PS passa por promover o “diálogo à esquerda numa base construtiva”, mas o secretário-geral do PS deixou alguns avisos para os que fazem “ultimatos”. O recado é dirigido a Catarina Martins que, na Convenção do BE, recusou fazer cedências. “Não é assim que falamos, porque numa negociação temos de estar de espírito aberto”, acrescentou.

Garantindo que só assistiu a “alguns bocados” do congresso dos bloquistas, Costa disse que ouviu os comentadores e ficou com a ideia de que “o Bloco de Esquerda não deve ter sido muito claro”, porque alguns “disseram que tinha reaberto a porta para o diálogo com o PS” e outros que tinha “utilizado essa convenção para colocar o PS como adversário principal”. 

Regionalização em 2024 A moção, coordenada por Mariana Vieira da Silva, traça os objetivos para as próximas eleições autárquicas que se realizam em setembro ou outubro: “assegurar a maioria das câmaras municipais, a maioria das juntas de freguesia, a maioria dos mandatos e a maioria dos votos”. 

A recuperação económica, a precariedade no mundo do trabalho ou o reforço da capacidade do Serviço Nacional de Saúde foram as prioridades traçadas por António Costa para a governação. A regionalização é outro dos asuntos abordados, mas esse debate só deverá ser feito no final de 2024 depois da “consolidação do processo de descentralização”. Nessa altura, o PS está aberto a um novo referendo.