Da esquerda à direita, os vários partidos foram firmes em condenar a invasão de larga escala das forças russas em território ucraniano, à exceção do PCP, cuja posição foi até criticada pelo chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva.
No debate da Comissão Permanente da Assembleia da República, que abriu com o ministro dos Negócios Estrangeiros a declarar que esta era “a maior crise de segurança na Europa desde a II Guerra Mundial”, os comunistas voltaram a apontar o dedo aos Estados Unidos (EUA), NATO e União Europeia (UE) pelo papel que desempenharam no escalar da tensão.
“O problema é mais profundo, mais amplo e ultrapassa em muito o leste europeu”, argumentou João Oliveira, deputado do PCP, acreditando que “os verdadeiros interessados numa nova guerra na Europa” são os norte-americanos, que estão “dispostos a sacrificar até ao último ucraniano ou europeu para a promover”. Para isso, a utiliza a NATO como “instrumento”, acusando ainda a UE de “subordinação à política belicista dos Estados Unidos e da NATO”.
Na resposta, Santos Silva, que registou que os comunistas não condenaram a investida de Putin, argumentou que “a escalada existe há meses porque a Rússia tem reunido armas e equipamento de combate nas fronteiras com a Ucrânia”. E lançou um desafio a João Oliveira: “Ainda tem 13 segundos para condenar” a ação russa.
Também o líder da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueredo, acusou o PCP de um “apoio desavergonhado a esta agressão”.
Mais tarde, o secretário-geral do PCP afirmou numa ação partidária em Lisboa que "as declarações de Putin, que refletindo a posição da Rússia como país capitalista, desferem um ataque à União Soviética e à notável solução que esta encontrou para a questão das nacionalidades e o respeito pelos povos e as suas culturas”, sem especificar a que declarações do Presidente russo se estava a referir.
Posição diferente à dos comunistas tiveram os bloquistas, que condenaram sem reserva a ocupação de território de um país soberano “à margem de qualquer lei internacional”. Ainda assim defenderam um cessar-fogo imediato na Ucrânia, recusando o reforço da presença da NATO na região, que acreditam “apenas escalar o conflito”. Nesse sentido, defendem que a ofensiva russa deve “ser punida com sanções fortes que afetem diretamente a oligarquia e a elite do país”.
PS APELA À VIA DIPLOMÁTICA Os socialistas condenaram “veementemente toda e qualquer violação do direito internacional”, apelando à “via diplomática” para resolver “qualquer visão alternativa ou desentendimento”. Em comunicado, o PS exortou à “retirada imediata das forças militares russas da Ucrânia”, solicitando à Rússia que reverta o reconhecimento unilateral das regiões de Donetsk e Lugansk da Ucrânia.
No Twitter, o primeiro-ministro António Costa garantiu que já ter um plano de evacuação preparado para as comunidades portuguesas e luso-ucranianas residentes na Ucrânia, “que será ativado se necessário”, reiterando ainda a necessidade de “abertura ao diálogo diplomático”, tal como já tinha defendido o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Em declarações aos jornalistas, também não deixou de referir que espera que esta situação sirva para “os 27 Estados-membros fiquem de uma vez por todas cientes de que o desafio de acolher refugiados, assegurar a sua proteção internacional e a sua inserção nas sociedades de forma a assegurar novas oportunidades de vida, é mesmo um dever que implica todos”.
RIO PEDE FORTES PUNIÇÕES O presidente dos sociais-democratas classificou o dia de ontem como “um dos dias mais tristes do pós-Guerra Fria”. “A decisão de invadir a Ucrânia é ilegal, desnecessária e inaceitável. E, com o mundo a ver, é preciso deixar claro que estas ações acarretam fortes punições”, alertou.
Numa mensagem semelhante, o presidente da Câmara de Lisboa também considerou “inaceitável” a ofensiva militar russa na Ucrânia. “É um dia muito triste”, disse Carlos Moedas (PSD).
CDS DIZ QUE PORTUGAL TEM DE DAR O EXEMPLO Os centristas defenderam que Portugal tem de dar um “exemplo de humanismo” no acolhimento aos refugiados do conflito que agora se iniciou, pedindo que esta não se torne uma “matéria de debate partidário”. O deputado Telmo Correia pediu ainda explicações sobre as sanções económicas que vão ser impostas à Rússia.
ATENTADO AO ADN EUROPEU O Chega disse condenar “veementemente a agressão levada a cabo”, exigindo “severas condenações públicas e políticas”, bem como “duras sanções económicas” à Rússia.
“A soberania de um país é um dos pilares fundamentais do ADN europeu e a invasão que está em curso é um atentado a este princípio”, lê-se no comunicado divulgado pelo partido liderado por André Ventura.
ATAQUE AO MUNDO LIVRE Na mesma linha, a Iniciativa Liberal descreveu o ataque como “criminoso” que, vindo do “regime autocrático russo” é tido como um “ataque a todo o mundo livre”. O partido liderado por Cotrim Figueredo defendeu igualmente que “Portugal deve ajudar imediatamente os portugueses na Ucrânia e as famílias ucranianas em Portugal”.
Posição para o qual o Livre também alertou, frisando que a UE e Portugal “tudo devem fazer perante o desastre humanitário que se adivinha”. Perante o início do conflito armado, o partido liderado por Rui Tavares diz ser “urgente preparar a ajuda a refugiados de guerra” e instou Portugal a estar na “primeira linha de defesa dos Direitos Humanos, disponibilizando-se de imediato para acolher vítimas e deslocados de guerra”.
Esta quinta-feira ucranianos residentes em Portugal organizaram várias manifestações pelo país, desde o Porto até ao Algarve, para protestar contra a intervenção militar da Rússia na Ucrânia. Ao final da tarde, concentraram-se centenas de ucranianos junto à Embaixada da Rússia em Lisboa, pedindo o fim da guerra e exibindo cartazes com a imagem do Presidente russo, Vladimir Putin, caricaturado de Hitler.