As reações ao mea culpa de Pedro Nuno Santos

Direita aponta falta de coragem ao primeiro-ministro. Esquerda cautelosa, não se pronuncia sobre a polémica e pede soluções.

Não se demite nem é demitido. “Obviamente”, Pedro Nuno Santos decidiu ficar no Governo, apesar de ter sido obrigado a fazer um ato de contrição, depois de António Costa o ter submetido “a uma humilhação pública” ao desautorizá-lo politicamente.

“Uma situação profundamente caricata”, classifica o ainda presidente do PSD, em reação à continuidade de Pedro Nuno Santos no Executivo. “O Governo anda aos ziguezagues. Um vem pedir desculpa e outro fica todo contente e a coisa resolveu-se rapidamente”, resume. 

Para Rui Rio, “há aqui uma notória falta de coragem do primeiro-ministro para demitir o ministro”, aguardando “curioso” pelas declarações do Presidente da República. 

“Se fosse eu sentir-me-ia incomodado em ter um Governo que está em funções há tão pouco tempo, um Governo que tem maioria absoluta e, depois de tão pouco tempo, estar já neste estado. Penso que o Presidente da República estará incomodado e não agradado com o funcionamento deste Governo”, apontou.

Apesar de rejeitar a apresentação de uma moção de censura, por “não ter efeito prático” e por não ter sentido fazê-lo a um Governo que “está a funcionar há três ou quatro meses”, o líder do maior partido da oposição não deixa de vincar que a “a falta de estabilidade não está fora de portas, não está na Assembleia da República, mas está dentro do próprio Governo que não se consegue orientar”. 

Depois de chamar “república das bananas” à polémica do novo aeroporto da região de Lisboa que tem como protagonista o ministro das Infraestruturas e da Habitação, o líder da Iniciativa Liberal diz ter assistido a mais uma episódio daquilo que se “transformou numa novela mexicana”.

“Temos um ministro que foi desautorizado publicamente de uma forma humilhante e não se demite e um primeiro-ministro que reconhece que tem um ministro que cometeu um erro grave e também não o demite”, realça João Cotrim de Figueiredo, afirmando que não tem memória de uma “desautorização deste calibre”.

O liberal considera que, depois disto, sobra “um Governo fragilizado numa pasta com coisas tão importantes como a ferrovia, a TAP e os aeroportos”. E levanta dúvidas sobre as declarações de Costa e Pedro Nuno Santos: “Fica a sensação de que não sabemos a história toda.”

Pelo CDS, Nuno Melo considera que “o primeiro-ministro desautorizado revelou todo o medo que tem da força de Pedro Nuno Santos junto do aparelho do PS”, realçando que “o partido prevaleceu sobre o país”.

Na ótica do centrista, o “primeiro-ministro não tem hoje autoridade nem força para demitir um ministro que o desautorizou publicamente”, sendo este um episódio “realmente muito grave” e que “coloca em causa o normal funcionamento das instituições democráticas”.

Já André Ventura diz que o caso de Pedro Nuno Santos se trata de um “circo inacreditável” em Portugal e que, depois da não existência de uma demissão, Marcelo Rebelo de Sousa deve “pelo menos politicamente, apontar o caminho de saída” ao ministro das Infraestruturas. “O que esperávamos de António Costa era decisão, autonomia e capacidade, hoje demonstrou que não tem isto tudo”, acusa o líder do Chega, não descartando a apresentação de uma moção de censura ao Governo. “Vamos ver.”

A esquerda, contudo, foi mais cautelosa nos comentários, sendo o PCP o único partido a pronunciar-se sobre a situação.

A líder da bancada comunista acusa o PS, de “em articulação com o PSD, servir os interesses da Vinci e negar ao país o direito a ter uma infraestrutura aeroportuária que permite o desenvolvimento” nacional.

Paula Santos denota “uma grande contradição no Governo” e também “dificuldades em justificar ao país” a opção do Montijo, argumentando que a opção do Campo de Tiro de Alcochete “está consensualizada” como a mais indicada para substituir o Aeroporto Humberto Delgado (Portela).

Não se pronunciando sobre a atuação de Pedro Nuno Santos, a deputada comunista frisa que o mais relevante é “não se continuar a adiar uma solução para o país, que defenda o interesse nacional”, quando este Governo “tem todas as condições para o decidir”.

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