‘O Governo do PS perde demasiado tempo a resolver os seus problemas’

A eurodeputada do PSD Lídia Pereira foi reeleita para um mandato de dois anos, com 71% dos votos. Quer os mais novos mais empenhados na política europeia e com melhores condições de vida.

Com que bandeiras se apresenta a esta eleição?

Há aqui cinco vetores fundamentais para esta reeleição. O primeiro tem que ver com a defesa da democracia, da liberdade e do Estado de direito. São bandeiras que a juventude do PPE tem defendido ao longo destes últimos 25 anos. Outro pilar tem que ver com a crise energética e a emergência climática. Tenho tido uma preocupação grande em aportar uma agenda conservadora que cuida e que preserva uma agenda sustentável, realista e, portanto, do centro-direita. Outra das minhas prioridades é a afirmação da Europa como o melhor lugar para se viver. É inegável que o continente europeu, com as suas diferenças e com a sua diversidade, continua a ser o melhor sítio do mundo para se viver.  Outro tem que ver com o reforço da juventude do PPE e prepará-la para o futuro. Tal como noutras organizações, é preciso investir em recursos, não só recursos humanos, mas recursos financeiros, para podermos continuar a aportar valor às organizações que são o esqueleto da organização mãe da juventude do PPE. Temos tido sempre a preocupação da digitalização, mas temos que implementar uma estratégia mais agressiva de presença nas comunidades online e nas comunidades em geral. E o último pilar tem que ver com a liderança da corrida às eleições europeias de 2024 e a agenda reformista que o YEPP e as suas organizações têm tido. Quero liderar uma campanha jovem, uma campanha com que as gerações mais novas se identifiquem para que encontrem respostas no PPE e nos partidos que fazem parte do PPE.

O que destaca daquilo que conseguiu cumprir até agora enquanto presidente da Juventude do PPE?

A proposta de Erasmus transatlântico que foi considerada na Cimeira Europa-Estados Unidos pela presidente Ursula von der Leyen e pelo Presidente Joe Biden. Também o facto de o PPE ter hoje uma semana dedicada à juventude e que tem aumentado os processos da auscultação e interação direta com as juventudes partidárias membros do YEPP. Temos atualmente um nível de influência significativo na ação política. Também a adoção de uma agenda prioritária no combate às alterações climáticas ou a mobilização das novas gerações na defesa da democracia europeia. Fomos a única juventude partidária que esteve presente na Ucrânia. E ainda a defesa de uma economia de crescimento limpa, sustentável e que permita mais e melhores empregos.

Há muitos problemas que têm condenado toda uma geração de jovens em Portugal, mas todos são fruto de uma dificuldade intergeracional que são os baixos salários. O que tem falhado?

Infelizmente, esta realidade portuguesa de baixos salários é mais um problema a juntar aos muitos que temos, desde a saúde à educação, e que tem levado a que muitos jovens procurem oportunidades fora de Portugal. Faz falta uma reforma de fundo e um apoio às gerações mais novas, não só a nível dos salários, mas também, por exemplo, no acesso à habitação. Uma das coisas que o PSD tem defendido é uma descida de impostos, que tenha aqui um enfoque maior nos jovens. Os jovens que ganham mil euros brutos já fazem parte de uma uma certa classe média e, portanto, já são tributados como tal. Uma das formas que o Governo tem à sua disposição para, de facto, mostrar preocupação com as novas gerações é por via da carga fiscal. Mas, para isso, é preciso vontade política e, infelizmente, o que nós temos observado no PS e no Governo socialista é uma grande dedicação aos seus problemas internos e não tanto aos problemas dos portugueses. Temos um conjunto de prioridades que estão permanentemente a ser negligenciadas, porque há um dispêndio de energia com a espuma dos dias, ou com a TAP, que tem consumido recursos de uma maneira totalmente indigna e vergonhosa.  O Governo de António Costa tinha todas as condições para fazer as reformas necessárias e para cuidar do futuro dos portugueses e  isso não está a acontecer, com uma maioria absoluta supostamente estável. O que está a acontecer é precisamente o oposto. É um desnorte absoluto na condução das políticas públicas.

No que se refere ao acesso à habitação, qual a receita para pôr fim a esta crise?

Há várias receitas. Não me revejo minimamente em nada daquilo que foi apresentado pelo PS e pela ministra da pasta. Há um problema de fundo que tem a ver com a necessidade de aumentar a oferta habitacional. Se não houver oferta suficiente, é evidente que há uma pressão muito grande sobre os preços. Então temos que aumentar a oferta habitacional para resolver o problema no longo prazo. Depois, há medidas mais rápidas de implementar, como, por exemplo, uma isenção do IMT, do imposto selo na aquisição da primeira habitação própria e permanente, como também uma isenção de imposto selo no arrendamento habitacional para jovens. Outra das propostas tem que ver com a transformação do programa Porta 65, no subsídio de arrendamento com acesso prioritário para jovens, reformados e pensionistas. Outras são, por exemplo, o apoio financeiro aos jovens na compra da primeira habitação própria e permanente, uma medida que foi implementada em Espanha, ou até mesmo a implementação de uma medida de substituição do fiador no arrendamento.

Sendo a política climática um dos seus pilares, que balanço faz da COP 27? Foram suficientemente ambiciosos?

A COP 27 deixou-me com alguns mixed feelings. Foi uma cimeira que, fundamentalmente, acabou por se transformar numa oportunidade perdida para passos significativos, em particular, a falta de sucesso na mitigação climática. Diria que essa foi a principal razão pela qual a COP 27 não foi uma boa COP para o planeta e para a humanidade. Mas destacaria como principal ponto positivo o facto de ter sido possível chegarmos a um acordo para um mecanismo que permite acudir a perdas e danos fruto de alterações climáticas. É um acordo que se procurava já há cerca de 30 anos. Infelizmente, durante a cimeira, aquilo que verificamos foi que muitos países estavam com uma atitude que acaba por minar a ambição de cumprirmos o limite do 1,5ºC, que vem precisamente do Acordo de Paris. Claro que a Europa tem feito a sua parte, mas, evidentemente, não estamos sozinhos no mundo e, quando vemos países como a China e a Índia, que são grandes emissores de CO2 e que não entendem que precisamos que todos façam a sua parte, então não vamos ser bem sucedidos. A Europa não pode agir sozinha. A Europa tem sido líder do ponto de vista das políticas públicas a adotar para atingirmos a neutralidade carbónica em 2050. Mas precisamos que as outras geografias do mundo partilhem deste espírito de proteção e preservação do ambiente, porque, infelizmente, não vamos conseguir parar as alterações climáticas apenas com o trabalho europeu.

O que espera da COP 28 e que problemáticas é que o Parlamento Europeu vai levar aos Emirados?

Serei novamente relatora da posição do Parlamento Europeu para a COP 28. Espero que seja possível dar passos mais concretos na mitigação das alterações climáticas e, aqui, pressionando todos os países a alinharem os seus esforços nacionais com um compromisso compartilhado de atingir as metas de longo prazo do acordo firmado em Paris. Um dos principais desafios será garantir que avançamos com o balanço global, que é uma componente fundamental do Acordo de Paris para avaliar as emissões e os progressos efetuados. Depois, temos que conseguir progredir em direção a uma transição energética que inclua uma expansão da energia renovável, políticas e investimentos para a transição para sistemas de energia livres de combustíveis fósseis, garantindo, ao mesmo tempo, acessibilidade e segurança energética. É fundamental avançar com a operacionalização do financiamento para perdas e danos para conseguirmos atender às necessidades dos mais vulneráveis, garantindo a disponibilidade, adequação, previsibilidade de fontes de financiamento.

Estamos a um ano das eleições europeias. O PSD está confiante que vai ser o partido mais votado em Portugal?

Sim, o PSD tem uma ambição clara e inequívoca para ganhar as próximas eleições europeias. Temos tido várias propostas, estamos absolutamente empenhados em afirmar essa alternativa. Estou confiante que a vocação liderante do PSD naquilo que diz respeito às respostas políticas a dar aos portugueses será merecedora da confiança dos eleitores nas próximas europeias. Há essa vontade de vitória que espero que se traduza depois em reforçar o número de mandatos no Parlamento Europeu pelo PSD.

Especula-se que Rui Moreira possa ser cabeça de lista do PSD às europeias. O presidente da Câmara do Porto dava um bom eurodeputado?

O presidente do partido e o PSD farão a sua avaliação sobre o que será mais importante para os interesses do partido nesta luta eleitoral. Mas não vou fazer esse comentário político. Os objetivos estão definidos. Todos os outros passos decorrerão no seu tempo próprio. Penso que nos próximos meses haverá mais informação, mas as coisas acontecem no seu tempo próprio, portanto, vamos aguardar.

Como encara a possibilidade de um partido que integra o PPE, como o PP espanhol, formar governo com um partido que é rotulado como de extrema-direita, como o VOX? E que repercussões uma solução deste género em Espanha pode ter no panorama da direita portuguesa?

Não faço transposições entre a realidade nacional de um país para outro. O centro-direita europeu não é homogéneo. Os valores europeus que são partilhados por forças pró-europeístas e que estão federados em sede do PPE têm a sua natureza. Mas, quando começamos a esmiuçar as diferenças entre determinados partidos políticos do leste, do ocidente ou do norte para o sul, há especificidades próprias. Não vou fazer extrapolações daquilo que pode vir a acontecer em Espanha. É fundamental que as pessoas percebam que a resposta aos problemas está nos partidos moderados, está na moderação, não está nas franjas do espetro político. É evidente que essa avaliação é muito específica de país para país, mas insistia nesta ideia de que não há um centro-direita homogéneo na Europa. Cada país tem as suas as suas idiossincrasias e essas especificidades também levam a determinadas soluções políticas que nesta fase ainda é prematuro poder avaliar. Mas vamos aguardar para ver. A circunstância espanhola também é bastante popularizada, é um ambiente político diferente do português. Mas as respostas para um futuro melhor para todos os espanhóis estão na moderação, portanto, aguardarei com expectativa o resultado dessa eleição.