Caso das gémeas: Marcelo quis esclarecer e só baralhou

Percebendo que o assunto poderia tornar-se sério, Marcelo Rebelo de Sousa decidiu dar explicações para se livrar do caso, mas o resultado não foi o que esperava.

A ideia era esclarecer todas as dúvidas sobre o caso das gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital de Santa Maria com um medicamento de 4 milhões de euros. Há mais de um mês que o Presidente da República enfrentava constantes perguntas sobre a sua intervenção neste caso e Marcelo Rebelo de Sousa, que de início desvalorizou a questão, percebeu que o caso era sério ao ponto de o Ministério Público ter aberto uma investigação contra incertos.

O problema é que os esclarecimentos dados pelo Presidente numa insólita conferência de imprensa em Belém deixaram mais dúvidas do que certezas e, longe de deixarem Marcelo Rebelo de Sousa intacto, comprometeram o chefe de Estado, que teve de admitir que, afinal, tinha recebido um email do filho, Nuno Rebelo de Sousa, e que a sua Casa Civil procurou saber detalhes sobre o processo.

Já em resposta aos  jornalistas, o Presidente disse ter todas as condições para se manter no cargo e garantiu que teve um comportamento neutro em relação ao pedido do filho, tal como o faz com muitos outros pedidos.

O problema é o pedido ter sido feito pelo filho – que Marcelo optou por designar como «Dr. Nuno Rebelo de Sousa». E a dúvida que fica é a de saber se o filho do Presidente não usou essa condição para exercer pressão na solução do problema das gémeas. Marcelo diz que não sabe e deseja que tal não tenha acontecido. Mas não garante, tal como diz não saber o que se passou depois de a sua Casa Civil ter enviado toda a documentação relativa a este caso para o gabinete do primeiro-ministro.

Resultado, os esclarecimentos presidenciais vieram relançar o debate sobre quem fez o quê e com ordens ou ‘cunhas’ de quem.

Até ao momento faltam ainda esclarecimentos do Governo e do Hospital de Santa Maria, mas uma coisa é certa: o caso das gémeas já provocou danos na imagem do Presidente da República e pode ainda ser comprometedor para membros do Governo, como a ministra da Saúde à época, Marta Temido, e o seu secretário de Estado, Lacerda Sales.

Numa altura em que os socialistas vivem uma campanha interna para eleger o sucessor de António Costa, este é um tema que queima, sobretudo agora que Marcelo Rebelo de Sousa desviou as atenções para a atuação do Governo.

raquel.abecasis@nascerdosol.pt