As sondagens têm sido animadoras para o Livre, que, pela primeira vez na sua história, ultrapassa o PCP nas intenções de voto. Mas ao nosso jornal, a candidatura de Rui Tavares mostra-se cautelosa. “Não medimos as nossas vitórias nas sondagens, só após o voto dos portugueses saberemos se alcançámos o nosso objetivo de influenciar ainda mais a política portuguesa. O nosso objetivo é construir uma maioria de esquerda, não competir dentro da mesma”.
O porta-voz do partido não tem escondido a ambição de eleger mais deputados, ao contrário do que se verificou na anterior legislatura em que Rui Tavares se apresentava como deputado único. E ao nosso jornal diz que o objetivo é reforçar a presença do partido na Assembleia da República, crescer para um grupo parlamentar. Sem apontar um número ideal de deputados eleitos, defende: “Quantos mais deputados o Livre alcançar mais força as nossas ideias terão no país”. E considera ser possível eleger em Lisboa, Porto, Setúbal e Braga.
O partido mostra-se otimista em relação à possibilidade de a esquerda poder vir a formar Governo – mesmo que as sondagens mostrem que esse objetivo será difícil –mas para isso defende “um acordo escrito entre todos os partidos para poder ser escrutinado e avaliado pelos cidadãos”. E justifica: “Só um acordo escrito entre vários partidos permite estabilidade governativa. Neste momento, e olhando para a direita, só a esquerda pode ser o garante dessa estabilidade”.
O Livre mostra-se, pois, disponível para ajudar a formar Governo, “negociando e dialogando com todos de forma a chegar a um programa de Governo comum”. E não exclui a possibilidade de viabilizar um governo minoritário da Aliança Democrática se isso evitar o crescimento da extrema-direita. “O partido nunca votará a favor de uma moção de rejeição de um eventual Governo de direita que seja apresentada pelo Chega. Não dizemos, como o Chega diz, que automaticamente, só porque é um governo de direita, apresentamos uma moção de rejeição. Não excluímos uma moção de rejeição, dependendo do programa do governo e da composição desse governo e das garantias dadas por esse Governo. Mas não alinhamos na farsa daqueles que dizem ‘se não tiver tacho, mando o Governo abaixo’. E nesse caso, que é de uma moção de rejeição do Chega, mantendo-se a coerência do Livre, ela não contará com o voto a favor do Livre. Se o entendermos apresentaremos nós a moção de rejeição”, salienta.
Destaque nos debates com uma exceção
A presença de Rui Tavares tem-se destacado nos debates, com exceção para o frente-a-frente com André Ventura, em que o confronto ficou marcado pelas fotos tiradas a filhos do líder do Livre na escola privada, em que André Ventura aproveitou para o acusar de “hipocrisia”. O porta-voz do partido introduziu no debate uma questão pessoal, criticando o deputado do Chega Pedro Frazão por ter referido no parlamento que os filhos de Rui Tavares frequentam uma escola internacional privada.
Rui Tavares apontou o dedo ao líder do Chega por ter usado a sua família “como arma de arremesso político”, lamentou que tenham sido publicadas nas redes sociais fotografias tiradas dentro do estabelecimento de ensino, e justificou a escolha da escola internacional com a condição de diplomata da mãe das crianças. Um tema que acabou por dominar a primeira parte do debate e, na resposta, André Ventura disse não ter conhecimento deste assunto e acusou o porta-voz do Livre de “hipocrisia” e de não ser “coerente com o que defende”, nomeadamente a escola pública.
Renovação da democracia
Uma das mensagens que o partido tem tentado passar é a necessidade de renovação da democracia com Rui Tavares a defender que devem ser dadas respostas aos portugueses para questão como “a luta contra a corrupção, na transparência da governação em Portugal, na integridade dos governante”, disse à Renascença.
E defendeu que, “por um lado são necessárias mudanças no sistema político e eleitoral, como a introdução de um círculo nacional de compensação ou a criação de “federações partidárias”, que segundo o deputado são distintas de coligações, referindo que “para efeitos de contagem dos votos e, portanto, para maximização das possibilidades que temos, com o sistema de Hondt, de alocação de deputados, determinados grupos de partidos e até de coligações, devem ser contados em conjunto”, considerando que este sistema “permitiria acantonar a extrema-direita”.