Foi acrescentado mais um ponto à ordem de trabalhados da próxima reunião do conselho nacional da Iniciativa Liberal (IL), marcada para o próximo domingo, em Coimbra. Inicialmente, havia apenas dois pontos em discussão: a avaliação do resultado do partido no ato eleitoral de 10 de março e as próximas eleições europeias. Mas o Nascer do SOL sabe que foi acrescentado mais um terceiro ponto a debate, relacionado com o posicionamento político sobre os vários cenários governativos, assim como a deliberação sobre a proposta de recomendação à direção.
Ao que o nosso jornal apurou, este novo ponto foi acrescentando depois do encontro de Luís Montenegro com Rui Rocha e das declarações deste, que tanto se mostra disponível para avançar com uma coligação com a AD como defende a autonomia das duas forças políticas, preferindo negociar medida a medida. Ainda nesta quinta-feira, Joana Cordeiro afirmou-se «disponível» para dialogar com Luís Montenegro, mas avisou que não passa «cheques em branco» ao futuro Executivo, contrariando o que tinha sido pelo líder da IL à saída da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa – quando referiu que «o mais natural» é ficar fora de um Governo da AD, acenando com «outro tipo de solução mais estrutural».
E durante dias foram-se multiplicando afirmações entre «prefere ficar fora do Governo» ou não fecha portas à AD – ou «para ter ímpeto reformista, conversaremos».
Para já, decidido está o nome de quem vai liderar a bancada parlamentar da IL. Mariana Leitão, que se estreia como deputada do partido, foi eleita esta quinta-feira por unanimidade líder da bancada parlamentar liberal, substituindo Rodrigo Saraiva. Estava até aqui como chefe de gabinete do grupo parlamentar e era ainda deputada municipal em Oeiras.
Raio-x
Este encontro do conselho nacional vai também estar virado para o resultado eleitoral e, ao que o nosso jornal apurou, poderá criar alguns momentos de tensão.
O partido liderado por Rui Rocha manteve o atual número de deputados, apesar de ter aumentado o número de votos face às anteriores eleições (conquistou mais de 312 mil votos, acima dos 266 mil registados em 2022), no entanto, não conseguiu eleger o quarto deputado em Lisboa, sendo que conquistou um em Aveiro. Um resultado que ficou bem longe dos objetivos estabelecidos pelo líder da Iniciativa Liberal, que prometia crescer mais de 50% a partir dos oito deputados atuais.
Resultado esse que não convence todos os militantes. «Perdeu-se um deputado em Lisboa, o que é extremamente grave. Ganhou-se em Aveiro, mas é preciso saber se é para se manter, porque quando se analisa os votos fica-se na dúvida se fosse numa condição diferente – e não através do método de Hondt – se teria sido elegível», revela militante ouvido pelo Nascer do SOL.
Outra fonte ouvida pelo nosso jornal chamou a atenção para o facto de conselheiros estarem a fazer o seu trabalho de escrutínio da comissão executiva e, como tal, têm a expectativa de que haja este domingo uma «discussão profunda acerca do assunto». Mas acredita que a sangria com a saída de mais militantes do partido finalmente poderá estar a estancar. «As pessoas que estavam para sair já saíram, agora poderemos assistir a movimentos mais irrelevantes, em que uma ou outra pessoa possa sair. Rui Nascimento saiu logo a seguir às eleições, mas não houve nenhuma questão relevante para abandonar o artido, achou que não tinha mais nada a fazer em relação à Iniciativa Liberal».
Outro tema em cima da mesa são as eleições europeias, para as quais João Cotrim Figueiredo já foi oficializado como cabeça de lista. «João Cotrim Figueiredo foi o primeiro deputado da Iniciativa Liberal, teve um papel determinante e decisivo no crescimento do partido, na afirmação da sua identidade e cultura no país. É uma honra para a Iniciativa Liberal poder continuar a ter o seu contributo e a sua ajuda para afirmar as ideias liberais em batalhas eleitorais futuras, quer em Portugal quer na Europa», chegou a ser revelado pelo partido.
O Nascer do SOL sabe que há ainda uma outra questão que envolve o ex-líder do partido e que está a inquietar alguns militantes. Em causa está a criação do IAL- Instituto Acção Liberal em junho de 2020 pelas mãos de António Cotrim, António Costa Amaral e Bruno Mourão Martins, ocupantes dos cargos de presidente, vice-presidente e tesoureiro do partido, respetivamente. Segundo o registo, a que o Nascer do SOL teve acesso, esta «associação tem como objeto a promoção dos valores da cidadania e da participação cívica através do estudo dos fenómenos culturais, sociais, económicos e políticos determinantes do livre exercício da democracia em Portugal, procurando fomentar o conhecimento e a literacia em política, a par da divulgação da cultura e dos princípios liberais».
Contactado pelo Nascer do SOL, o partido explicou: «A Acção Liberal é uma associação que foi constituída com a intenção de criar um instituto de comunicação das ideias liberais. Nunca teve qualquer atividade ou financiamento porque ao mesmo tempo surgiu o instituto +Liberdade que preencheu esse espaço. Como a associação nunca chegou sequer a ter assembleia constituinte não tem planos de atividades ou contas».
Recorde-se que há outro movimento ‘apartidário’ que foi criado por Carlos Guimarães Pinto, após ter abandonado a presidência da Iniciativa Liberal: o Mais Liberdade.