Ainda que não seja certo que Luís Marques Mendes seja candidato à Presidência da República – embora já tenha admitido que não está fora de questão –, os sinais de que tenciona entrar na corrida vão sendo cada vez mais visíveis e, neste último fim de semana, foi piscar o olho aos que estiveram presentes no Campus da Liberdade 2024 – movimento próximo da Iniciativa Liberal. Um comportamento semelhante ao de Marcelo Rebelo de Sousa, que, antes de anunciar a sua candidatura à Presidência, em 2015, esteve presente na Festa do Avante! no papel de comentador, como se fosse uma espécie de tubo de ensaio.
Ao que o Nascer do SOL apurou, Marques Mendes não fazia parte de nenhum painel – aceitou o convite de André Pinção Lucas, diretor executivo do Instituto +Liberdade para marcar presença –, mas acabou por falar no final de um dos debates, onde estava Luís Campos e Cunha – antigo ministro das Finanças de José Sócrates – e em vez de dizer umas palavras de cortesia como estava previsto acabou por falar tanto como os intervenientes do painel.
Na sua intervenção, chamou a atenção para o papel do poder. «O poder não é para se ocupar, muito menos para se exibir, que é sinal de arrogância. Menos ainda para traficar, que é um sinal de imoralidade. O poder só serve verdadeiramente para se executar e exercer um projeto de transformação da sociedade», disse Marques Mendes, aproveitando para apontar o dedo ao facto de pouco ou nada se ter discutido, até aí, em matéria de Orçamento do Estado. «Reparem nesta coisa completamente esdrúxula que há semanas, para não dizer meses, está a acontecer em Portugal. Não há dia nenhum em que se liga a televisão e não se discuta se o Orçamento passa, se não passa. Se vamos ter eleições, se não vamos ter eleições. Se isto é mais à esquerda, se é mais à direita. E ninguém discute a questão mais importante: o conteúdo do Orçamento». E prosseguiu à boleia dos discursos liberais. «Por que é que o Estado em Portugal tem mais institutos públicos, mais órgãos dirigentes, mais órgãos consultivos do que países da nossa dimensão como a Bélgica e a Suécia. Porquê? (…) Esta situação só serve verdadeiramente para alimentar clientelas dos partidos que em cada momento estão no poder», sentenciou, referindo que «para mudar esta situação é ter um Estado que tenha outro sentido estratégico, que tenha menos burocracia, que contribua para menos despesa e que liberte a sociedade porque verdadeiramente quem cria riqueza são as empresas e as pessoas e não o Estado».
O nosso jornal sabe que no final deste debate Mendes foi desafiado a dizer a palavra ‘genuflexório’ no seu espaço de comentário da SIC com o argumento de que ‘faria subir as audiências’. Um desafio que, pelos vistos, teve eco junto de Marques Mendes, uma vez que o comentador terminou a sua intervenção dominical dizendo que aprendeu «imenso junto daqueles jovens» e uma palavra que, de acordo com o mesmo, «nunca tinha ouvido na vida»: genuflexório. «O que se aprende com estes jovens. É um móvel adequado para rezar de joelhos».
O nosso jornal sabe que esta ‘confissão’ não caiu bem junto da comunidade católica, uma vez que, sendo Marques Mendes católico, deveria estar a par do que significa a palavra. Uma questão que ganha maior relevo quando pondera candidatar-se à Presidência da República de um país maioritariamente católico.
Recorde-se que Luís Marques Mendes, no final de agosto, deu mais um passo em frente na candidatura a Belém ao declarar aos jornalistas à entrada da Universidade de Verão do PSD, que decorreu em Castelo de Vide, que está «mais próximo do que nunca de tomar uma decisão». O comentador começou por afirmar que ainda não tem uma decisão tomada, mas também disse que a decisão estaria para breve. «Talvez esteja mais próximo do que nunca de tomar uma decisão. Nunca estive tão próximo de uma decisão. Primeiro, porque as eleições presidenciais estão mais próximas, depois porque a minha reflexão pessoal está mais adiantada do que há um ano», revelou o conselheiro de Estado.
Estas declarações surgiram depois de Luís Montenegro ter defendido um candidato presidencial dos quadros do PSD, excluindo desta forma nomes como Paulo Portas, Santana Lopes ou Gouveia e Melo , mas indo ao encontro de potenciais candidatos como Marques Mendes, Leonor Beleza e até Passos Coelho ou Durão Barroso, isto é, os nomes já testados em sondagens.
Outros possíveis candidatos
Recorde-se que não é apenas o nome de Marques Mendes que está na berlinda para suceder a Marcelo Rebelo de Sousa. Se os mais falados são o almirante Gouveia e Melo e o governador Mário Centeno (este com o apoio do PS), também Pedro Santana Nomes te vindo a admitir a possibilidade de ir a jogo, como o próprio, de forma indireta, admitiu na SIC Notícias. «Deve ser candidato quem achar que está em condições mesmo de ser útil e que pode ganhar. Acho que não se corre essa corrida para se ganhar notoriedade ou para se ter tempo de antena. Conheço o país todo. E o próximo Presidente é uma coisa que tem que ser: muito próximo também do povo», disse o autarca da Figueira da Foz. Num outro momento chegou mesmo a referir: «Tenho a certeza de que sei o suficiente para poder exercer bem essa função».