Candidatura presidencial de Seguro assusta setores do PS

O episódio Ricardo Leão pôs a nu fraturas internas no partido. As vozes que se fizeram ouvir  estão preocupadas com as escolhas para presidenciais e autárquicas. Costa quer ter uma palavra a dizer.

No interior do partido socialista é dado como adquirido que Montenegro vai estar no poder por um período mais longo do que inicialmente seria de esperar, talvez mais do que uma legislatura. É por isso que os socialistas apostam tudo nos dois atos eleitorais que se avizinham, mas as escolhas dos nomes para os lugares dividem as várias tendências no interior do partido.

O episódio de Ricardo Leão, Presidente da câmara de Loures e na altura também Presidente da FAUL (Federação da Área Urbana de Lisboa), foi a faísca que incendiou os ânimos no interior do partido.

As polémicas declarações do autarca sobre despejos a pessoas condenadas por desacatos, deram a desculpa perfeita para que António Costa pudesse aparecer e, a coberto da «defesa da honra do PS», mostrar que vai para Bruxelas, mas que quer ter uma palavra a dizer sobre as escolhas para os próximos desafios eleitorais.

Um apoiante de José Luís Carneiro nas últimas eleições internas disse ao Nascer do SOL que «a principal motivação para o Costa vir agora falar, é porque o Leão teria outras opções para autarquias importantes, como Sintra, e não gostou que o Pedro Nuno viesse com a história do Seguro para as presidenciais». Num artigo com segundas intenções, para além do ataque a Ricardo Leão, os críticos consideram que António Costa quis assustar Pedro Nuno Santos e terá conseguido, «ele tem medo do Costa», afirma a mesma fonte.

À cabeça de todos os diferendos está a escolha do candidato presidencial. Pedro Nuno Santos, que já garantiu que desta vez os socialistas vão apoiar um candidato próprio, lançou o nome de António José Seguro numa entrevista à CNN, como mais uma figura presidenciável com que o partido podia contar. Como escrevemos na edição 18 de outubro, a menção ao antigo líder socialista não surgiu por acaso, o Secretário Geral Socialista já sabia que esta era uma hipótese real, que se começou a preparar assim que Francisco Assis integrou as listas do partido às eleições europeias. Confrontado com essa possibilidade, Pedro Nuno Santos não a rejeitou, e a verdade é que os defensores de uma candidatura do Seguro se mostram muito entusiasmados com a hipótese de ela se poder vir a tornar realidade. Problema: uma candidatura de Seguro não só é vista como uma afronta a António Costa, como inviabiliza a candidatura de Centeno, o preferido do ex primeiro-ministro socialista.

Mas há mais razões para que os costistas estejam nervosos com as decisões futuras da direção socialista. Pedro Nuno Santos tem o dossier das autárquicas bem fechado, enquanto vai testando nomes às várias autarquias do país com sondagens internas.

Uma fonte socialista garantiu ao Nascer do SOL que as críticas a Ricardo Leão não se limitam às polémicas declarações. O Presidente da Câmara de Loures, enquanto Presidente da Federação socialista de Lisboa, tem uma palavra a dizer sobre as escolhas para as autarquias do distrito e algumas das suas preferências, não batem certo comas opções da ala mais próxima de António Costa. Um dos casos mais problemáticos, é o caso de Sintra. Basílio Horta vai abandonar a Câmara por limite de mandatos e esta é uma autarquia que os socialistas acreditam poder manter. O nome que tem vindo a ser falado e que até já foi testado em sondagens internas é o de António Mendonça Mendes, ex secretário de estado adjunto de António Costa. Mas há outros nomes na lista, nomeadamente o de Ana Mendes Godinho, ministra do trabalho do último governo socialista. Apesar de Mendonça Mendes testar melhor do que Mendes Godinho, Ricardo Leão terá mostrado preferência por uma candidatura da antiga ministra.

Ao que nos dizem, o caso de Sintra é apenas um entre vários exemplos que está a gerar divisões entre os socialistas e não é por acaso que já há três prováveis candidatos à liderança da FAUL. A verdade é que os socialistas, que estiveram no governo durante oito anos, procuram agora conquistar os lugares que nos próximos anos estarão disponíveis. Autárquicas e Presidenciais são, também por isso, batalhas eleitorais muito importantes não só para o partido, mas também para as várias fações internas. Os últimos episódios mostram que o costismo está longe de ter terminado, até porque os desafios da oposição não facilitam a unidade interna no partido. O problema que o novo secretário geral enfrenta não é tanto o de ter a liderança em risco, é sobretudo o da afirmação de poder que as várias fações internas vão querer fazer a cada momento.