Costa não faz campanha em bastiões do PCP

Há um pacto de não agressão não assumido. As autárquicas são importantes, mas a estabilidade ainda é mais.

A lista de câmaras que o PS espera conquistar ao PCP nas próximas autárquicas é longa e fica quase toda a sul de Lisboa. As contas socialistas permitem sonhar com a vitória em pelo menos oito das 34 autarquias que estão agora em mãos comunistas. O objetivo está traçado e não é o acordo de governação assinado com o PCP que vai impedir a disputa. Mas a verdade é que os tempos não estão para guerras à esquerda e António Costa quer evitar ruídos desnecessários que introduzam atrito na governação.

Nessa lógica, Costa já decidiu que não fará campanha nos bastiões comunistas. A decisão faz parte um pacto de não agressão não assumido entre socialistas e comunistas, que tem o objetivo de afastar o mais possível a luta autárquica do plano nacional.

O PS está preparado para que o PCP e também o BE – embora este quase sem expressão autárquica – aproveitem o período até às eleições para marcar terreno e os socialistas dizem que vão conviver bem com isso, assumindo as divergências. Farão tudo para que não haja a ideia de que a estabilidade governativa está em causa.

António Costa sabe que neste momento esse é um dos seus maiores trunfos e não quer ficar com o ónus de uma crise. De resto, a atitude é semelhante no PCP e no BE, que não hesitam em marcar as diferenças, mas que não querem ficar na fotografia como os causadores de instabilidade política.

Tudo somado, há um jogo de equilíbrios que socialistas, comunistas e bloquistas querem manter e que não sairá beliscado pela luta autárquica, que os vai tornar inimigos em algumas câmaras.

Desde logo, o PS tem a ambição de conseguir retirar Loures ao PCP, onde Bernardino Soares só consegue governar graças à ajuda do social-democrata Fernando Costa, que não voltará a ser candidato à câmara. Outro grande objetivo é o Barreiro, onde a saída de Carlos Humberto – por ter atingido o limite de mandatos – abre espaço ao socialista Frederico Rosa.

Évora, Beja, Grândola, Moura, Cuba, Alcácer do Sal e Vila Viçosa são outros concelhos atualmente liderados por comunistas que os socialistas acreditam ter condições para vencer este ano. São câmaras que têm oscilado entre o PS e o PCP e que os socialistas querem recuperar.

Também há exemplos de sentido contrário: Vendas Novas, Chamusca e Nisa são autarquias nas mãos do PS que estão na mira do PCP e que os comunistas tudo farão para ganhar.

Outro pólo de tensão deverá ser Lisboa. João Oliveira já se assumiu como candidato comunista e o seu discurso de campanha vai ser feito em torno da crítica ao trabalho do socialista Fernando Medina. Aqui, o BE também não deverá fazer vida fácil ao PS. Os bloquistas ainda não definiram o seu candidato, mas tem-se falado no nome de Ricardo Robles, para assumir uma candidatura de oposição a Medina.

Nem PCP nem BE têm condições para sonhar à partida com uma vitória na capital, mas ambos querem reforçar a votação em Lisboa e, para o fazerem, terão de carregar na oposição a Medina.

No PS não se valoriza, porém, muito esta tensão em torno das autárquicas. Os socialistas estão habituados às divergências com os parceiros à esquerda e vão tentar não dar gás à ideia de uma guerra. Como disse ao SOL o líder do PS Barreiro, André Pinotes Batista, «vai haver arrufos», mas não se espera uma guerra.