CDU perde um terço dos seus bastiões

Não conseguiu recuperar Almada, mas a surpresas da noite foi a perda de bastiões como Mora, Montemor-o-Novo e Alpiarça e a derrota em Loures, concelho que tinha recuperado em 2013 com Bernardino Soares e que oito anos depois volta para o PS.

O resultado «ficou aquém dos objetivos». Foi desta forma que o líder comunista reagiu ao tombo da noite eleitoral. Mas mesmo assim, Jerónimo de Sousa afastou, para já, a saída de secretário-geral, ao garantir que essa questão não está colocada, nem por si, nem pelos camaradas do PCP. Reconheceu, porém, que essa discussão pode ser aprofundada, «aprendendo sempre e procurando melhorar o nosso trabalho coletivo». E deixou uma garantia: «Para vosso descanso, um dia deixarei de ser secretário-geral».

A CDU perdeu sete câmaras, mas recuperou duas em relação a 2017, quando obteve o pior resultado de sempre em autárquicas. Até aqui, porque não conseguiu recuperar Almada – que continua nas mãos de Inês Medeiros (PS) – perdeu Mora também para os socialistas, uma autarquia que sempre foi liderada pelo PCP desde 1976. O mesmo aconteceu em Alvito, com o PS a chegar ao poder 20 anos depois.

O ‘desastre’ repetiu-se em Alpiarça, Montemor-o-Novo e Loures. Ainda assim, conseguiu segurar Setúbal – com André Martins a mostrar-se «disponível para dialogar com as outras forças políticas», depois de reclamar o triunfo ‘difícil’ na autarquia.

O PCP obteve 37,36% dos votos em Viana do Alentejo, recuperando o concelho 16 anos depois. O mesmo cenário repetiu-se em Barrancos, que reconquistou ao PS, com 46,5% dos votos. Voltou a vencer na autarquia do Seixal (um bastião comunista desde o 25 de Abril, ), com 37,74% dos votos que valeram cinco vereadores. Joaquim Santos conseguiu manter-se à frente da autarquia – que era uma das câmaras importantes para os planos do Governo, uma vez que foi uma das duas autarquias que manteve o veto ao aeroporto do Montijo.

Caso virasse para o PS, era um alívio para os socialistas, assim, continuará a ser uma pedra no sapato durante mais quatro anos. E o PCP manteve ainda a liderança da Câmara de Évora, apesar da diferença de apenas 200 votos – ainda assim, Carlos Pinto garantiu: «A CDU não é uma força política que vive apenas para as eleições. Estamos no terreno no dia a dia com as pessoas, com os trabalhadores».

Os resultados levaram Jerónimo de Sousa a admitir que «naturalmente existem perdas» nas autarquias, mas reiterou a «disponibilidade» para servir as populações, não poupando críticas externas: apontou para um «um conjunto de fatores adversos» que limitaram a campanha das autárquicas, entre elas a pandemia e as restrições «aos contactos e às iniciativas de massas», garantindo que «talvez alguns só saibam ganhar, mas os reveses são lições para fazer melhor»,sublinhando como «a vida política tem destas coisas» e referindo que os comunistas não ficam «chorosos e tristes por um resultado eleitoral», nem tão pouco «temos de bater com a mão no peito e ficar arrependidos».

‘Grande força do poder local’

Apesar do confessado fracasso, o líder comunista garantiu que a CDU continua a ser «uma grande força do poder local», lembrando que os dois anos de pandemia ‘expuseram’ os problemas nacionais e locais e critica a «exibição de recursos que o Governo propagandeia», exigindo uma «tradução nos investimentos».

E deixou uma garantia: «Passado o tempo da resposta emergente, é preciso olhar para o futuro e dar as respostas que podem e devem dar-se», sem as limitar a ‘leituras’ restritas do Orçamento do Estado.

«Não se pode, em nome das opções de classe do PS, adiar soluções para agravar os problemas do país», afirmou. E quando questionado sobre o ‘eco’ que estes resultados terão na política nacional, o secretário-geral do PCP garantiu que «não são determinantes» e que a política «não se esgota no Orçamento do Estado para 2022».

Para o líder comunista não há dúvidas: «Coloca-se com maior premência a necessidade de dar resposta aos problemas do país», referindo que «não há razões que justifiquem o adiamento das opções e respostas para os problemas imediatos e urgentes que persistem sem resposta».

E deu vários exemplos: aumento dos salários, contratação coletiva, horários dignos e vínculos permanentes ou a revogação da legislação laboral. Também o aumento das pensões para todos os reformados e a criação de uma rede de creches públicas para todas as crianças são reivindicações dos comunistas.