Júdice diz que PSD usa Sá Carneiro para colar-se à esquerda. Graça Carvalho responde

Perante as acusações, Graça Carvalho realça passagens em que o antigo líder dizia que o PSD era de Esquerda.

No seu espaço de opinião na SIC Notícias, José Miguel Júdice acusou o PSD de “servir-se” da publicação dos textos de Sá Carneiro no período entre 1974-1975 para colar-se à esquerda, afirmando que o partido tem procurado fazer “propaganda” de que “Sá Carneiro era de esquerda” para com ela ser identificado. “Foram publicadas a obras completas de Sá Carneiro e está a sair um livro sobre o período 74-75.  Isto serviu para o PSD dizer: ‘como veem, o Sá Carneiro era de esquerda’. (…) O PSD, neste momento, faz propaganda, põe nos jornais, faz prefácios, a dizer que o Sá Carneiro é de Esquerda – e isso é inédito desde 1979”. Além disso, notou nunca, “em 40 anos”, ter ouvido os “quadros, dirigentes ou congressistas” dizerem estar “mais próximos do PS do que do CDS ou do IL”.

Júdice referia-se ao artigo publicado na edição de sábado do Nascer do Sol, que fazia a pré-publicação do dito livro apresentando o seu prefácio, assinado por Pinto Balsemão. Neste, o antigo primeiro-ministro selecionou um conjunto de textos da época em que Sá Carneiro balizara ideologicamente o PPD-PSD, assumindo-o de “esquerda”. Balsemão fê-lo deliberadamente, como deixa claro ao notar que a sua “seleção de temas e citações” para aquele prefácio visou “fundamentar” a sua “conceção da social-democracia”.

Graça Carvalho, presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro  – instituto responsável pela publicação do dito livro (que poderá adquirir com a edição de sexta-feira do Nascer do Sol), – distancia a publicação do livro de quaisquer eventuais intenções propagandísticas do PSD. Ao i, a eurodeputada nota que a “a decisão de reeditar estes livros foi tomada e começou a concretizar-se no ano passado, no âmbito de um conjunto alargado de iniciativas relacionadas com os 40 anos do desaparecimento de Francisco Sá Carneiro”. Segundo Graça, o “principal objetivo foi apresentar a novas gerações de portugueses, mas também a investigadores e historiadores, o pensamento de uma figura decisiva da nossa história”.

Quanto à eventual ‘esquerdice’ do PSD, Graça apenas nota que Balsemão é o “autor do prefácio deste volume”, sendo que faz “referência a um célebre artigo, publicado a 6 de novembro de 1975 no Povo Livre, no qual Sá Carneiro descreve o PPD-PSD (que chegaria a tentar inscrever na Internacional Socialista), como ‘um partido de esquerda empenhado na construção do socialismo democrático que Portugal merece e quer’”. Ou seja, deixar claro ser factual que Sá Carneiro olhava para o PPD, objetivamente, como um partido de esquerda e socialista.

De que trata o livro? Este livro, que é o terceiro volume – de quatro – com textos completos de Sá Carneiro, acompanha a fase do ‘príncipe do PDD’ entre o 25 de abril de 1974 e o 25 de novembro de 1975. Nesta altura, nas palavras de Graça Carvalho, “estiveram em jogo a paz e a democracia no nosso país, ameaçadas por uma extrema-esquerda que esteve muito próxima de lançar Portugal numa guerra civil”.