A reposição na íntegra pela RTP do célebre frente-a-frente de Mário Soares e Álvaro Cunhal, em 6 de Novembro de 1975, constituiu um verdadeiro serviço público, que deve ter incomodado – e não pouco – as hostes do PCP, que desde então não mudaram na substância das ideias.
Mudado o calendário, que ficou? O ano despediu-se no meio de muitas incertezas. Em Portugal, na Europa, no mundo. Fizeram-se balanços e previsões, como de costume. Mas ninguém arriscou muito. Os prognósticos já conheceram melhores dias.
A demissão de António Domingues da Caixa é um fracasso do Governo que ensombrou os festejos programados para comemorar o primeiro ano da ‘geringonça’.
A ‘geringonça’, enquanto forma de Governo, completou um ano de rodagem. Mas o foguetório começou mais cedo, com a ajuda do INE, que divulgou oportunamente a melhoria do PIB no último trimestre. As fanfarras não tardaram, celebrando hoje o «poucochinho» que os mesmos desvalorizavam ontem.
Há muito que se percebeu que Rui Rio seria o líder ideal do PSD para António Costa. Ainda este se preparava no Largo do Rato para empurrar António José Seguro pela escada abaixo e já não disfarçava a sua simpatia por essa hipótese.
Vai por aí um enorme alvoroço mediático com as remunerações fixadas pelo Governo socialista – com o apoio implícito da frente de esquerda – para os gestores da Caixa Geral de Depósitos, nomeados após uma espera de vários meses, graças às trapalhadas em que se especializou o ministro Mário Centeno.
Os media foram ‘invadidos’ pelo Governo. Portugal está num impasse, mas não parece. Escamoteia-se. Fala-se a toda a hora de Governo. Entrevistam-se governantes. A política faz-se nas televisões. Desfilam os políticos-comentadores, os jornalistas-políticos e os porta-vozes de interesses de capela, que precisam de fazer prova de vida.
Somos um país pequeno e periférico, com séculos de História feita de muitos feitos, e um povo que reproduz hoje fraquezas que sempre o estigmatizaram, e forças que, a espaços, o engrandeceram. Dizer que isto faz parte do ADN dos portugueses é reconhecer uma banalidade.
Há um não sei quê de melancolia ácida, de solidão visceral e de desconforto contido, nas entrevistas do juiz Carlos Alexandre à SIC e ao Expresso, reveladoras do cerco que lhe montaram, primeiro para o intimidarem e, depois, para o substituírem quando for mais propício.
O reaparecimento anunciado de António José Seguro em março próximo, a pretexto do lançamento do livro com a sua tese de mestrado, além de interromper um dilatado silêncio, aborda um tema que não podia ser mais oportuno: o controlo político do Governo pelo Parlamento.
O celebrado volte face de António Costa na noite eleitoral de 4 de Outubro legitimou o ‘faz de conta’ em política.
Foi tão grave e insensato o ato praticado por um ministro do Governo em funções, da Educação por apelido, ao acabar com exames a meio do ano letivo sem ouvir ninguém – exceto a Fenprof que o aplaudiu –, que se justifica voltar ao assunto, até pela reação tímida da maior parte dos media, quase…
A confirmar-se o anúncio de Carlos César, o país vai assistir, na próxima semana a um debate surreal em São Bento, graças à apresentação paralela do programa do Governo – legitimado pelo voto – e de um ‘acordo de esquerda’, não referendado em 4 de outubro, fruto do conluio de António Costa com comunistas de…
A eleição de Eduardo Ferro Rodrigues para presidir à Assembleia da República não reflete apenas a soma aritmética da ‘maioria de esquerda’, mas – muito mais grave – confirma a obediência dos deputados à vontade dos diretórios partidários, abdicando da sua independência, como se fossem marionetas nas mãos dos manipuladores. É mau demais.
No mesmo dia em que Marcelo Rebelo de Sousa convocou os media, de surpresa, para Celorico de Basto e lhes confirmou que era candidato às presidenciais, Guilherme D’Oliveira Martins fez saber que se despedia do Tribunal de Contas e que aceitara o convite para administrador executivo na Fundação Gulbenkian.
A 48 horas da ‘grande sondagem’ que vai decidir sobre o futuro próximo dos portugueses, o que fica do ruído de campanha – desde as caravanas coloridas aos banhos de multidão, com muita gente aliciada e protestos organizados -, até aos soundbites treinados para provocar desgaste no adversário e a gula dos media?
Se as contas da CNE (Comissão Nacional de Eleições) estiverem certas, teremos a 4 de Outubro quase 3.500 candidatos, a disputar os 230 lugares de deputados, em nome de 16 partidos e coligações.
A moda está a pegar. Depois da sétima carta aberta de Sócrates, a partir da cadeia de Évora, agora foi a vez de António Costa adoptar a via epistolar, desdobrada em vários capítulos, para se dirigir ao eleitorado indeciso, com “o empenho em explicar” como “virar a página da austeridade para relançar a economia”.