Não precisou de mais do que sete livros, com um silêncio de uma década de permeio antes de fechar a conta. Uma obra tão breve quanto fulgurante e que não merecia um calhamaço, mas que assim regressa às livrarias e nos lembra ainda que isso da “mulher” é como ficar de castigo a vida toda…
Numa rara iniciativa empenhada em fazer uma reflexão sobre o campo da edição de livros entre nós, lançando de caminho um esboço sobre esse território sobre o qual os leitores parecem ter uma perspectiva cada vez mais brumosa, nas suas conversas com editores a livraria Tigre de Papel tem permitido uma indagação e um debate…
“Com a rede puxo para mim o que se move na sombra” (Nuno Júdice). Bom Dia Mundial da #Poesia!”, escreveu Augusto Santos Silva, através do Twitter.
Em “Levar Caminho I”, um dos mais influentes e polémicos poetas das últimas duas décadas inicia o processo de reunião da sua vastíssima obra, convocando assim os leitores para um balanço e uma revisão não só desta poesia como dos abalos e dos equívocos que gerou.
É poeta e ficcionista e tem vindo a construir uma obra de pessoalíssima voz. Nasceu em 1941 em Chacim, uma antiga vila de Macedo de Cavaleiros e é conhecido o seu desapego pelas grandes cidades e pela via rápida (tantas vezes efémera ou imediatamente mortal) do produto desnacionalizado.
Um dos mais importantes poetas dos últimos 20 anos, Manuel de Freitas começa agora a reunir a sua produção poética. O que encontramos no primeiro volume é um derradeiro fulgor da poesia, que se mede uma vez mais com a época do seu desaparecimento.
Com as suas mais de mil páginas, a reunião das décadas de ferocíssimo exame crítico da poesia contemporânea levada a cabo por Joaquim Manuel Magalhães na imprensa resulta num tijolo (com selo da Bestiário) que poderá partir qualquer vitrina, mas que, se aberto e lido, nos oferece tantos motivos de repulsa como de deslumbramento, constituindo em…
O projecto de traduzir todos os poemas de Celan é de uma ambição desmesurada, um feito a que poucos se atreveram, e por bons motivos. Tratando-se de uma obra empenhada em revirar a língua alemã com um furor vingativo, os poemas estão investidos de um grau de invenção idiomática e de uma radicalidade expressiva que…
Aos 84 anos, morre o autor norte-americano de origem sérvia, um poeta que viu o perigo de a História se tornar uma espécie de moral absolutizante, e de nos vermos encerrados na retórica degenerada que permite que os crimes prossigam e os inocentes sejam chacinados “enquanto um tipo na televisão arranja desculpas”.
Morreu, na passada quinta-feira, aos 71 anos, o escritor francês Christian Bobin. Com um sentido muito claro da exigência de uma vida religiosa, através dos seus ensaios poéticos buscou traçar um caminho de esplendor de volta aos antigos e difíceis exemplos da fé cristã.
Um vigilante e um desmistificador, detendo-se em questões tanto da arte e da literatura, como da história, da sociologia e da política, este enormíssimo ensaísta e poeta alemão morreu na passada sexta-feira, aos 93 anos.
Há um culto aos gatos com uma tradição longuíssima e que remonta, pelo menos, ao Antigo Egipto. Na época moderna, já superada a tentação de remeter tudo para a adoração das divindades, não têm faltado na literatura exemplos de grandes escritores que tiveram com o gato as maiores atenções. Entre nós, Rui Caeiro (1943 -2019)…
Uma nova antologia, belíssimamente ilustrada, em jeito de homenagem, com pinturas e desenhos de Cruzeiro Seixas, oferece-nos uma panorâmica abrangente e talvez excessivamente inclusiva das representações do homoerotismo na poesia portuguesa desde os cancioneiros medievais galaico-portugueses até aos dias de hoje.
Acaba de publicar-se entre nós um dos mais admiráveis testemunhos da resistência política no século XX, os Diários do Exílio que o poeta grego Yannis Ritsos escreveu a partir dos campos de concentração nas ilhas do mar Egeu.
Assinalando os 70 anos que o antigo editor da Assírio & Alvim teria feito no mês passado, um livro de homenagem monta um pequeno enredo de lembranças, vincando a paixão desmedida de alguém que negligenciou os seus próprios versos, preferindo ser esse condutor de orquestra deslumbrado pelo virtuosismo dos outros.
A reunião da obra poética de um dos maiores autores brasileiros, reeditada no final do ano passado pela Imprensa Nacional depois de há muito ter esgotado a das edições Quasi, não obteve qualquer eco entre nós, mas assume agora, no conturbado momento que se vive naquele país, uma actualidade radiante.
“Penélope está de partida” é um livro escrito de costas para a narrativa épica de Homero. Tem um pé na epopeia clássica, outro na modernidade. Oferece-nos um muito admirável puzzle dramático a que não faltam peças que investem contra o velho figurino da passividade feminina.