Foi Costa quem escolheu Domingues

Não foi Centeno quem se lembrou do homem do BPI para a CGD. Foi Costa quem propôs o nome deste gestor.

A ideia de convidar António Domingues para presidente da Caixa Geral de Depósitos partiu do próprio primeiro-ministro, António Costa, apurou o SOL junto de várias fontes ligadas ao processo de escolha do sucessor de José de Matos.

Apesar do convite formal ter sido dirigido por Mário Centeno, ministro das Finanças, quem ‘inventou’ António Domingues foi o primeiro-ministro. A influência junto de António Costa de Artur Santos Silva, presidente da Gulbenkian que sairá do cargo em maio, fundador do BPI, foi decisiva para esta escolha do primeiro-ministro.

O convite foi feito a 19 de março de 2016, mas António Domingues só aceitou um mês depois. Primeiro, quis perceber se era possível fazer um aumento de capital na Caixa Geral de Depósitos sem que houvesse a sujeição ao regime de ajudas de Estado. Antes de aceitar o convite de António Costa, Domingues teve várias reuniões em Frankfurt e Bruxelas para saber se a recapitalização seria possível. Quando concluiu que sim, aceitou o convite do primeiro-ministro, intermediado por Mário Centeno. A questão da gestão do dossiê Caixa pelo Governo está cheia de buracos desde o primeiro minuto: foi o próprio António Domingues a informar José de Matos, o presidente cessante, de que seria o seu sucessor. O Governo não se preocupou em informar Matos de que já tinha um substituto. José de Matos tinha terminado o seu mandato no final de 2015 e quando Domingues o informou de que lhe iria suceder já tinha meio ano sem que o Governo decidisse nada sobre a administração da CGD – não se dando sequer ao trabalho de informar José de Matos de que já tinha sucessor.

Tudo isto levou a que em 21 de junho, quando Domingues já estava convidado mas longe de entrar em funções, a administração da Caixa Geral de Depósitos tenha pedido a demissão. Numa carta enviada ao ministro das Finanças, a administração de José de Matos mostra o seu esgotamento com a situação e remete «para o Governo a responsabilidade pela resposta à indefinição que paira há meses sobre o maior banco do sistema». José de Matos ficará na Caixa até final de agosto, altura em que António Domingues assumiu finalmente a presidência da Caixa. Domingues não fez o mesmo com o seu sucessor e saiu da CGD sem esperar pela posse de Paulo Macedo.

Relativamente à influência junto de António Costa, Artur Santos Silva diz ter sido alheio à escolha de Domingues. "Apenas tive conhecimento do convite feito ao Dr. António Domingues pelo próprio, dias depois de o mesmo ter sido formulado. Fui totalmente alheio a esta iniciativa do Governo", refere o presidente da Gulbenkian.