Em 2017, 32 autarquias elegeram uma candidata para liderar a Câmara Municipal. Tal significou um aumento relativamente a 2013, quando apenas 23 candidatas venceram as eleições autárquicas. Ainda assim, dessas 32 presidentes de Câmara, pouco mais de 20 se mantêm no poder, a poucos meses das eleições autárquicas de 2021 – que se realizarão a 26 de setembro.
Para este processo eleitoral, contam-se, pelo menos, 90 candidatas, espalhadas pelas autarquias do país. Do PS ao Chega, passando pelo PSD, CDS, CDU, BE, IL e movimentos independentes, há de tudo: novas candidatas, recandidatas, e vencedoras em 2017 que procuram repetir o feito.
Este foi, aliás, um dos temas discutidos por Rui Rio na 5.ª Academia de Formação Política para Mulheres do PSD, quando afirmou acreditar que as mulheres estão «claramente sub-representadas na vida pública e na vida política» mas que a situação é «melhor do que no passado».
Recandidatas
Um pouco por todo o país, as mulheres eleitas para os lugares máximos das autarquias procuram a reeleição. Outras, repetem a investida nas corridas às Câmaras.
Em Almada, um dos maiores concelhos do país, trava-se uma renhida luta entre candidatas. Inês de Medeiros, atriz de profissão e filha do Maestro Vitorino de Almeida, foi a ‘carrasca’ do bastião comunista na margem sul em 2017, vencendo, pela primeira vez na história da democracia em Portugal, uma candidata não-comunista nessa autarquia.
A presidente de Câmara é novamente candidata e tem pela frente Maria das Dores Meira, da CDU, que atingiu o limite de mandatos em Setúbal e decidiu lançar-se à corrida autárquica em Almada. Neste concelho, a luta autárquica é praticamente toda feminina, pois para além das candidaturas de Inês de Medeiros e de Maria das Dores Meira, o Bloco de Esquerda apresentou novamente a deputada Joana Mortágua como cabeça de lista nesta autarquia, após a mesma ter conquistado um lugar como vereadora nas eleições de 2017.
Maria Das Dores, todavia, não está só nesta migração entre concelhias. Na outra extremidade do país, junto à fronteira, Fermelinda Carvalho, social-democrata e Presidente da Câmara Municipal de Arronches, atingirá agora o limite mandatos. Contudo, tal como Maria das Dores, decidiu candidatar-se a outra autarquia dentro do mesmo perímetro distrital. Será candidata pelo PSD a Portalegre, capital de distrito atualmente governada pela independente Adelaide Teixeira – que se recandidatará com o objetivo de fazer o seu último mandato.
Ainda em Portalegre, mas agora em Nisa, está praticamente garantido que a próxima presidente da autarquia será uma mulher. Os nisenses poderão escolher dar mais um mandato à atual autarca socialista Idalina Trindade – que venceu as eleições autárquicas em 2013 e 2017 –, ou mudar o rumo para o segundo partido mais votado historicamente na autarquia: a CDU. Fátima Dias é o nome comunista que aponta aolugar mais alto da autarquia, onde a CDU dominou as eleições entre 1982 e 2013.
Já em Matosinhos, a presidente Luísa Salgueiro (PS) venceu as eleições autárquicas em 2017 e vai agora tentar o segundo mandato, após ter, naquele ano, derrotado os ex-socialistas Narciso Miranda e António Parada.
Andando para Sul, as recandidatas também tomam de assalto as manchetes dos jornais.
É o caso, por exemplo, de Teresa Cardoso, em Anadia. A autarca – a primeira mulher a tomar as rédeas da autarquia – venceu em 2013 e em 2017 com o Movimento Independente Anadia Primeiro, e é novamente candidata pelo mesmo Movimento.
Já em Cantanhede, uns quilómetros mais abaixo, a atual presidente da Câmara, Helena Teodósio, vai tentar conquistar mais um mandato com as cores do PSD. Pela frente, no entanto, terá também a candidata socialista Cristina de Jesus, deputada à Assembleia da República.
Também em Tomar se avizinha um duelo PS-PSD no feminino. Os socialistas vão concorrer à autarquia com Anabela Freitas, atual autarca da cidade do Centro do país. Já o PSD vai concorrer com o nome de Maria Lurdes Ferromau, presidente da concelhia do PSD de Tomar e da Junta de Freguesia de S. Pedro.
Outra luta autárquica feminina vai-se dar na Marinha Grande, no distrito de Leiria, onde a atual autarca socialista Cidália Ferreira procura um novo mandato. Pela frente terá a candidata da CDU Alexandra Dengucho, que concorreu já em 2017, e que beneficia de uma ligação histórica desta autarquia à CDU, partido que governou entre 1979 e 1993, e entre 2005 e 2009.
Estas eleições, no entanto, não vêm sem uma reviravolta: o antigo vice-presidente da autarquia, o socialista Carlos Caetano, será o candidato do PSD nas eleições de 26 de setembro, colocando-se frente a frente a Cidália Ferreira, com quem trabalhou lado a lado durante o último mandato, até que a mesma lhe retirou a confiança política em maio.
Algumas candidatas partem também de uma situação peculiar: chegaram ao poder nos últimos meses do último mandato, e acabaram por ser a escolha das concelhias para as próximas eleições. Em Torres Vedras, Laura Rodrigues assumiu a presidência da autarquia após a morte de Carlos Bernardes, em maio deste ano. A socialista acabou por assumir, então, também a candidatura do PS nestas eleições autárquicas.
Assim sendo, apesar de já ter ocupado o lugar máximo na Câmara Municipal, estas serão as primeiras eleições oficiais em que a candidata socialista encabeça a lista. O mesmo acontecerá em Vila do Bispo, onde Rute Silva, atualmente presidente interina da autarquia – depois da renúncia ao mandato de Adelino Soares –, será a candidata socialista nas próximas eleições.
Casos polémicos
Polémica também se escreve no feminino – e em 2021 é o que não falta. O caso mais impactante do ponto de vista mediático é a candidatura da advogada Suzana Garcia, pelo PSD, à Câmara Municipal da Amadora, onde a autarca Carla Tavares (PS) será recandidata. Esta é uma das candidaturas mais polémicas a nível nacional, uma vez que Suzana Garcia é conhecida pelas suas declarações públicas controversas, entre as quais a defesa da castração química de pedófilos.
Em Viseu, a candidata da Iniciativa Liberal à Assembleia Municipal, Bernardete Santos, ficou também envolvida em polémica, após ter sido acusada de fazer publicações nas redes sociais a fazer apologia ao salazarismo.
Novas candidatas
Além das candidatas que estão já familiarizadas com os cantos dos gabinetes presidenciais, surgem também vários nomes estreantes, entre elas, como anuncia Carlos Moedas. Isabel Galriça Neto, que será a candidata à Assembleia Municipal de Lisboa, na lista de Moedas.
Júlia Fernandes, vereadora em Vila Verde, será a candidata do PSD à autarquia – autarquia essa que, considerando que é governada pelo PSD desde 1997, certamente a elegerá. O atual presidente da Câmara, o social-democrata António Vilela, não se pode recandidatar, pelo que a candidatura ficará para a vereadora – que é mulher de José Manuel Fernandes, presidente da autarquia entre 1997 e 2009 e um dos eurodeputados mais influentes do Parlamento Europeu.
Mas Júlia Fernandes não é a única candidata neste concelho do distrito de Braga. Cláudia Pereira, líder dos centristas de Vila Verde, é também uma das aspirantes a presidente de Câmara. Recorde-se que, antes do início da dominância social-democrata neste concelho, Vila Verde foi um bastião do CDS-PP, que governou entre 1976 e 1997 com um hiato entre 1982 e 1985 – altura em que a Aliança Democrática subiu ao poder.
Em Lisboa há também novos nomes nas candidaturas: Beatriz Gomes Dias, pelo Bloco de Esquerda, Manuela Gonzaga pelo PAN e Sofia Afonso Ferreira pelo Nós, Cidadãos!.
Incertezas
No capítulo autárquicas no feminino, se há quem tenha atingido o limite de mandatos e quem tenha decidido não se recandidatar, há ainda quem não tenha anunciado a sua decisão. É o caso de Margarida Belém (PS), que se tornou na primeira mulher a assumir o mando da autarquia de Arouca. Ainda não anunciou a recandidatura, e o Nascer do Sol sabe que a sua popularidade não está em alta.