Golo do Iniciativa Liberal: o Cartão do Adepto tem os dias contados. A Assembleia da República vaticinou, esta quarta-feira, o seu fim, aprovando uma proposta que procura extingui-lo. Também o Chega e o PCP apresentaram propostas nesse sentido, tendo estas sido, todavia, rejeitadas.
Para o IL, o Cartão do Adepto “discriminava e estigmatizava cidadãos em recintos desportivos”. O diploma – que ainda descerá à especialidade – foi viabilizado pelas abstenções do PSD e do PS, assim como pelo voto favorável dos restantes partidos. Do PS, oito deputados votaram a favor do término do cartão: Tiago Barbosa Ribeiro, André Pinotes Batista, Joana Lima, Carlos Braz, Constança Urbano de Sousa, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Isabel Moreira e Rosário Gamboa.
No debate parlamentar, Cotrim Figueiredo não teve língua a medir nos termos em que se referiu ao cartão: “Para saber que não está a funcionar basta olhar para as bancadas vazias dos estádios. (…) Para aceder a algumas zonas do estádio são precisos quatro documentos. Só o PS para transformar uma ida ao futebol pior do que uma ida a uma repartição de finanças, só mesmo o PS para tirar o gosto ao que devia ser o prazer”.
Perante esta ofensiva do azulado Cotrim, os socialistas foram obrigados a jogar à defesa, rejeitando o “determinismo de quem imagina que o combate à violência no desporto se faz revogando o cartão do adepto”, nas palavras de Barroco de Melo. Passando a bola para outra jovem promessa socialista, Costa Matos colocou a tónica da discussão na “liberdade e segurança”, realçando a importância de haver “uma legislação para combater a violência no desporto”.
Já o PSD, através de Emídio Guerreiro (antigo secretário de Estado da Juventude e do Desporto), notou que o cartão era apenas um mecanismo “experimental” e passou rapidamente a bola da responsabilidade para o Governo: “Estamos a menos de 1/3 da época e já houve problemas nos estádios. Quem tem a responsabilidade de estar aqui connosco a discutir e não está, que é o Governo, tem também a responsabilidade de preparar a implementação das medidas”.
A medida, altamente contestada, estava em vigor desde o arranque da nova época e visava a “promoção da segurança e do combate ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espetáculos desportivos”.
Como? Procurando controlar o acesso a zonas especiais dos estádios (onde, por norma, estão as claques) e identificando todos os que estejam presentes nessas zonas (visto que só é permitida a entrada a portadores do dito cartão). Os requerentes do Cartão do Adepto teriam que entregar os seus dados pessoais – nome completo, fotografia, número de telemóvel, documento de identificação, quais os clubes que apoia ou a que grupo organizado pertencem, etc – à Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto. Uma medida, portanto, de securitazação preventiva.
Não tendo tido praticamente qualquer adesão – algo notório pelo facto das bancadas onde deveriam estar os adeptos portadores de cartão estarem ‘vazias’ –, conseguiu-se agora unir forças cívicas e políticas para decretar-se o seu fim. A proposta do IL vem revogar o cenário supradito, estabelecendo agora que “o acesso e a permanência nas zonas referidas, em cada espetáculo desportivo, são reservados apenas aos adeptos detentores de título de ingresso válido” – ou seja, ‘saneando’ as menções ao Cartão do Adepto.
Clubes em celebração Um dos maiores críticos do Cartão Adepto foi Pinto da Costa, histórico presidente do FCP, que o considerou “uma das mais estapafúrdias medidas tomadas pelos governantes que já há muito tempo demonstraram que são inimigos dos clubes nacionais”.
Estará, por isso, certamente contente com a aprovação do seu fim na Assembleia da República – razão pela qual o FCP terá recorrido ao Twitter para o celebrar. Não foi, contudo, o único. Assim o fez, também, o Vitória Sport Clube, o Boavista, o Braga, a Académica e a União de Leiria, tendo o último clube classificado a decisão da AR como “música para os nossos ouvidos”.