Partidos políticos reagem à declaração de Costa

“As desculpas não se pedem, evitam-se”, não vale “chorar sobre leite derramado” ou “primeiro-ministro desperdiçou oportunidade de demitir Galamba” foram o tom dos comentários

Bernardo Blanco (IL): “É lamentável que ministro João Galamba não tenha sido demitido”

Bernardo Blanco, da Iniciativa Liberal, lamenta que o ainda primeiro-ministro não tenha anunciado a demissão do ministro das Infraestruturas, arguido no caso da Operação Influencer.

É “lamentável que o ministro João Galamba não tenha sido demitido”, disse o deputado liberal, na reação à comunicação de António Costa ao país, sublinhando a necessidade de “um novo ciclo de governação” e a importância do PS “sair do Governo” para que a “dignidade das instituições políticas e públicas volte a estar recuperada”.

Sobre o pedido de desculpas do primeiro-ministro, pelo facto de terem sido encontrados envelopes com mais de 75 mil euros no gabinete de Vítor Escária, Blanco classificou-o como “uma tentativa de distanciamento” demasiado “curta”.

Pedro Filipe Soares (BE): “As desculpas não se pedem, evitam-se”

O líder parlamentar do Bloco de Esquerda criticou as declarações de António Costa, acusando-o de “não aprender com alguns dos erros que deveriam ter levado a essa aprendizagem”.

Pedro Filipe Soares lamenta que na opinião do ainda primeiro-ministro nada deve mudar, quer o regime de desresponsabilização ambiental, quer o regime de projetos de interesse nacional criados na altura do governo de José Sócrates e acarinhados por PS e PSD e que serviram para negócios contestados na praça pública e alguns judicialmente”.

Para o deputado, o objetivo de Costa foi o de passar uma mensagem de “tranquilidade” aos beneficiários dos projetos.

Questionado sobre o pedido de desculpas do primeiro-ministro, Pedro Filipe Soares não hesitou em dizer: “As desculpas não se pedem, evitam-se”.

André Ventura (Chega): “Foi um ato bizarro, deselegante e inadequado do primeiro-ministro”.

O presidente do Chega não poderia ter sido mais crítico sobre a comunicação do ainda primeiro-ministro ao país. Para Ventura, as palavras de António Costa constituirão “um ato bizarro, deselegante e inadequado do primeiro-ministro”, além se serem uma tentativa de 

“interferir na esfera da justiça” para “condicionar justiça, magistrados e opinião pública”.

Por várias vezes, o líder do Chega evocou o processo Casa Pia, “com o PS a tentar condicionar a ação da justiça”.

Ventura diz que o primeiro-ministro “pisou a linha da separação entre a justiça e a política e passou a linha da decência e não decência”, e que o Chega “não vai deixar passar”. Pediu aos partidos que se unissem para aprovar no Parlamento um voto de condenação da declaração de Costa ao país.

António Filipe (PCP) lembra casos anteriores de alegada “promiscuidade”

A dar voz à reação do PCP, António Filipe sublinhou que Portugal tem assistido a “muitos exemplos das consequências de promiscuidade”, e deu como exemplos o BES e a TAP.

“Estamos perante situações que têm envolvido governos do nosso país em que a promiscuidade entre interesses económicos e atuação pública tem sido preterida”, disse.

Inês Sousa Real (PAN): “Muitos milhões de euros estão a ir para o bolso dos mesmos”

A líder do PAN considera que o “ dinheiro existe e não está a ser canalizado para quem deve ser”. Inês Sousa Real lamentou que propostas do PAN, como a regulamentação do lobby ou a criação da Entidade para a Transparência não tenham sido concretizadas. “Muitos milhões de euros que estão a ir para o bolso dos mesmos”, lamentou a deputada única do PAN.

Rui Tavares (Livre): “Primeiro-ministro teve ocasiões únicas para poder resolver problemas”

O deputado único do Livre considera que as palavras de Costa são como “chorar sobre o leite derramado”, sublinhando que o primeiro-ministro podia ter evitado muitas das situações. 

“Se hoje Portugal está perante uma enorme crise política, que tem alguns elementos de crise de regime, e se do estrangeiro têm a visão de que Portugal está num enorme escândalo de corrupção houve um período, em que António Costa governou, em que estas coisas podiam ter sido esclarecidas e evitados os danos”, sublinhou

Nuno Melo (CDS): Costa “desperdiçou oportunidade de demitir Galamba “

Para o CDS-PP “é inaceitável que se permita utilizar o cargo e a sua residência oficial para se defender de circunstâncias judiciais e pessoais, que só podem ser dirimidas nos tribunais”.

Os centristas sublinham que António Costa, que usou várias vezes a expressão “à Justiça o que é da Justiça, à Política o que é da Política”, violou, relativamente a si, “o critério que utilizou relativamente aos outros, para evitar comentários e declarações”.

O CDS considera ainda que o primeiro-ministro “desperdiçou a oportunidade de fazer aquilo que os portugueses esperavam: demitir João Galamba, fazendo cessar o principal foco de censura que persiste no governo, e garantindo que o espetáculo deplorável ontem vivido na Assembleia da República, degradando a credibilidade das instituições democráticas, não se repetiria”.