As contas incertas à direita

As sondagens são claras, o próximo parlamento vai ter uma maioria à direita e o Chega é decisivo.

Numa altura em que os partidos à direita parecem já ter as estratégias definidas, parece cada vez mais claro que o Chega terá um papel determinante na construção de cenários pós eleitorais.

Que o Chega vai subir de forma exponencial não há dúvida, a dúvida reside só no valor que essa subida pode atingir. No PSD acredita-se que há medida que a solução que o partido vai apresentar (uma plataforma que reúne independentes, CDS e outros movimentos) for ficando clara, o efeito no eleitorado de direita vai começar a sentir-se. Uma coligação de banda larga que abranja apoios do centro à direita moderada, acreditam os social democratas, terá o efeito de congregar o voto útil. Essa é a mensagem que Montenegro tem vindo a passar, apresentando-se como o líder de uma frente que possa substituir o PS no Governo. Se vai ou não ser capaz de criar essa dinâmica de vitória, é uma dúvida que ainda persiste e que os anúncios dos próximos dias podem vir a ajudar a clarificar.

Para já, o que vão dizendo as sondagens (como a que publicamos nesta edição) é que o Chega terá entre os 15% e os 17%. Se assim for, e mantendo-se a posição de PSD e IL de não fazer acordos com André Ventura, a maioria à direita pode não servir de muito. Se em entrevista ao Nascer do SOL Ventura tinha deixado em aberto a hipótese de viabilizar um governo do PSD, analisando caso a caso as propostas que fossem chegando ao Parlamento, esta semana em entrevista à CNN o líder do Chega já deixou no ar um aviso: um governo minoritário de direita? «Para quê? Dura um dia».
Ameaças ou certezas, a verdade é que as contas finais e os equilíbrios ou desequilíbrios entre as várias forças à direita é que vão ditar o cenário seguinte.

Luís Montenegro já mostrou que está disponível para oferecer lugares no Parlamento em troca de apoios que lhe permitam maximizar resultados eleitorais, mesmo que para isso tenha que sacrificar muitos social democratas ansiosos por ocuparem um lugar em São Bento. Para já, não se ouvem reclamações, mas a célebre noite das facas longas, quando se decidem os nomes para lugares elegíveis à Assembleia da República ainda está longe. Nessa altura se verá até que ponto o partido está unido em torno da estratégia do líder. A última vez que um presidente do partido geriu assim os lugares de deputados foi no tempo de Sá Carneiro e foi uma estratégia que resultou. Montenegro aposta na mesma receita.