Menos de uma semana depois de Pedro Nuno Santos ter sido eleito como novo secretário-geral socialista, Luís Montenegro e Nuno Melo anunciam ao país a Aliança Democrática.
Como o Nascer do SOL foi noticiando desde as vésperas do congresso do PSD, em novembro, Montenegro esteve nas últimas semanas a preparar um modelo de coligação semelhante à que Francisco Sá Carneiro preparou em 1979 e que pela primeira vez, desde o 25 de Abril, permitiu à direita derrotar o Partido Socialista nas urnas.
A inspiração de Montenegro fica desde logo clara no nome escolhido: Aliança Democrática. Mas, para além do nome, a preocupação do líder social-democrata foi a de juntar às duas forças políticas figuras independentes que possam vir a integrar as listas de deputados, como o próprio Montenegro confirmou esta semana em entrevista à CMTV: “Alguns desses nomes irão integrar as listas de deputados”.
Ao lançar o Manifesto por uma Alternativa Reformista e Moderada, subscrito por 100 personalidades da sociedade civil, o PSD quis fazer um paralelo com a adesão dos reformadores, também eles independentes do centro político, à coligação protagonizada por Sá Careniro e Freitas do Amaral no final da década de 1970. Dado o primeiro passo, agora, PSD e CDS anunciam que vão propor aos respetivos orgãos partidários uma coligação com o horizonte de uma legislatura.
Uma maioria, um Governo…
No comunicado divulgado ao final do dia desta quinta-feira aos orgãos de comunicação social, os dois partidos explicam: “Aliança Democrática, uma coligação pré-eleitoral com o horizonte do atual ciclo político, abrangendo as eleições legislativas e europeias de 2024 e em sintonia com os compromissos regionais para as eleições nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores de 2023 e 2024, respetivamente, e com os entendimentos de base local para as eleições autárquicas de 2025”.
Ao estender o acordo agora anunciado para o horizonte de todo o ciclo político, mais uma vez se tenta uma similitude com o que à época Sá Carneiro propôs. A única diferença está no facto de este acordo não abranger as eleições presidenciais que se realizam em janeiro de 2026. Marques Mendes e Paulo Portas, ambos hipoteticamente candidatos à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa, não serão alheios à não extensão do acordo entre centristas e sociais-democratas às próximas eleições presidenciais.
Reformistas e moderados
A nova Aliança Democrática (AD) apresenta-se ao eleitorado como um movimento “com coragem reformista que fomente a competitividade das empresas, a qualificação dos portugueses, a inovação e geração de valor acrescentado, o reforço do Portugal empreendedor e exportador, a valorização do mundo rural, que salve e reabilite o Estado Social do definhamento em curso, e que assegure a todos os portugueses a saúde, educação e habitação acessíveis e com qualidade”.
Outro destaque do comunicado divulgado à imprensa sublinha a moderação e o respeito pela propriedade privada, numa tentativa de se demarcarem ao mesmo tempo do Chega de André Ventura e, na referência ao respeito pela propriedade privada, tentando colar os socialistas à esquerda.
CDS volta ao Parlamento
Uma coisa é certa, com o anúncio da coligação entre PSD e CDS, Nuno Melo consegue alcançar um objetivo que muitos já consideravam impossível: fazer o partido regressar à Assembleia da República.
Ao longo dos últimos dias, Melo e Montenegro discutiram a representação parlamentar que os centristas poderão vir a ter em São Bento. Ao que sabe o Nascer do SOL , a negociação ainda não está completamente fechada, tendo ficado garantido que o CDS virá a ter entre dois a quatro deputados em lugares elegíveis.
As últimas sondagens, que davam a possibilidade de o CDS voltar a eleger mesmo que concorresse em listas próprias, terão ajudado à obtenção de um acordo. Para um momento mais avançado, já depois de os dois partidos terem aprovado a coligação, ficaram os acertos finais do entendimento.