Conscientes que têm de acelerar calendários e que o entusiasmo criado num primeiro momento pelo anúncio da AD começa a perder efeito (como, aliás, a sondagem que publicamos nesta edição comprova), Luís Montenegro e Nuno Melo organizam neste domingo uma convenção, apostando num grande momento mediático que esperam venha a trazer uma nova energia à coligação.
Depois de anunciadas as listas, agora é hora de mostrar ao eleitorado que, mais do que um casamento de conveniência, a nova AD tem um programa alternativo ao do PS.
A convenção deste fim de semana, diz-nos uma fonte da nova Aliança Democrática, é o tiro de partida para uma semana em que a coligação vai querer fixar a ideia de que se apresenta a eleições, «mais do que como um projeto partidário, como um projeto de Governo».
Para a próxima semana está prevista a apresentação do cenário macro-económico e das reformas económicas que a AD propõe caso venha a governar. São dois momentos essenciais para a campanha sair para a estrada, ainda não com o programa, mas com as grandes linhas que o vão orientar.
Moedas e Portas caucionam AD na convenção
A convenção que se realiza no domingo no Estoril pretende ser um momento de demonstração de unidade e de quadros.
Ao longo da tarde estão previstas várias intervenções com convidados escolhidos a dedo, para tentar falar aos diversos eleitorados a que a coligação quer chegar: direita, insatisfeitos com o PS, jovens e até liberais. Nuno Melo tem a cargo a abertura do evento e o encerramento fica reservado para Luís Montenegro.
No evento, que se quer que seja visto como o arranque para a campanha eleitoral, os líderes da AD apostam no efeito mobilizador das intervenções.
Paulo Portas, antigo líder do CDS, e Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, são dois dos nomes fortes escolhidos para falar. Mas, a estes, outros nomes sonantes dos dois partidos se juntarão, num desfile de intervenções semelhante ao que é habitual em congressos.
Pelo lado do PSD, são presenças garantidas Leonor Beleza, Carlos Carreiras e José Eduardo Martins. Os centristas apostam forte na intervenção de Cecília Meireles, um dos quadros mais apreciados do partido. Do lado dos independentes, o destaque vai para os discursos de Alexandre Homem Cristo, que irá integrar as listas da AD nas eleições de 10 de março, Paulo Carmona, que recentemente se afastou da IL, e Rui Massena, o jovem maestro do Porto que assinou o manifesto de independentes que declararam apoio à AD.
Economistas querem recuperar jovens para o país
A reunião de economistas que esta semana juntou à mesma mesa vinte e seis nomes na sede do PSD apontou como principal prioridade criar condições para trazer de volta para Portugal muitos dos jovens que nos últimos anos têm vindo a abandonar o país em busca de melhores oportunidades de vida.
Miguel Cadilhe, antigo ministro das Finanças de Cavaco Silva, fez a intervenção mais enfática a este respeito. Para este economista, os números que vieram a público na semana passada – dando conta de que trinta por cento dos jovens, na sua maioria com altas qualificações, saiu para o estrangeiro – «é o maior falhanço da democracia desde o 25 de Abril». Na sua intervenção, Cadilhe fez um quadro muito carregado para o futuro do país caso esta tendência não seja invertida: «Estamos a substituir trablaho qualificado por trabalho estrangeiro não qualificado».
Na mesma linha pronunciaram-se muitos dos outros participantes, convidados para dar o seu contributo à equipa de seis economistas que está a finalizar o cenário macro-económico que a AD irá anunciar na próxima semana. Na sala, houve consenso sobre a descida de impostos (IRS e IRC) como caminho obrigatório para procurar inverter o atual estado de coisas, a par com uma proposta robusta que vise a reforma dos serviços público que os presentes consideraram estar em colapso.
Alguns dos presentes neste encontro ouvidos pelo Nascer do SOL consideraram a reunião muito positiva e confessaram-se agradavelmente surpreendidos com a intervenção inicial de Luís Montenegro. «As ideias principais estão lá, embora ainda um pouco confusas e a precisar de ser sistematizadas», disse ao nosso jornal um destes economistas.
‘Melhor quje Centeno’
João Vale e Azevedo é o nome que tranquiliza muitos dos que na passada segunda-feira se sentaram na sala de reuniões da São Caetano à Lapa. O economista investigador do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal é o homem que Luís Montenegro chamou para integrar a equipa que está a preparar o cenário macro-económico e a fazer as contas que balizam as propostas da Aliança Democrática.
Numa estratégia semelhante à que António Costa usou quando preparou o programa com que se apresentou às eleições em 2015, Montenegro aposta num programa para a legislatura, com medidas e metas avaliadas em função do custo e impacto previsto na economia.
Para credibilizar a tarefa foi escolhido João Vale e Azevedo, um dos economistas mais conceituados da nova geração. Com doutoramento em Stanford, Vale e Azevedo é também professor na Nova SBE e na Universidade Católica. «É um dos melhores economistas que temos no país, muito focado e muito organizado. Na medida em que ele se aplique, o programa da AD não podia estar em melhores mãos», diz-nos um dos economistas que esta semana estiveram na reunião.
Será João Vale e Azevedo o Centeno de Montenegro? A nossa fonte ri-se e responde: «É muito melhor do que Centeno».
Pedro Nuno aposta tudo nos debates
Para já, a estratégia no Largo do Rato é apostar num programa de Pedro Nuno Santos com visitas e reuniões, mas sem eventos de grande impacto, por enquanto.
A campanha a sério começa no início de fevereiro no encerramento das eleições no Açores, em que Pedro Nuno Santos deverá marcar presença. Depois disso, começam os debates nas televisões e todo o foco estará nesses momentos, que, acreditam os socialistas, serão determinantes para a tomada de decisão dos indecisos. Os socialistas fecham as listas de deputados durante este fim de semana e deverão aprová-las em Comissão Nacional no início da próxima semana.
raquel.abecasis@nascerdosol.pt