O dia seguinte às eleições de 10 de março promete ser agitado para a classe política. Quem vai ter que apanhar os cacos de umas eleições antecipadas para as quais ninguém estava preparado e quem, pelo contrário, vai encontrar na decisão dos portugueses um novo fôlego para respirar? Esta é a grande questão que se coloca nas diversas sedes partidárias, dos grandes, aos pequenos partidos.
Num cenário parlamentar que se tem vindo a fragmentar muito nos últimos atos eleitorais, é bem possível que no dia 11 de março haja uma diminuição de partidos representados na Assembleia da República. A confirmarem-se as sondagens que têm vindo a ser publicadas, é muito provável que o PAN desapareça do hemiciclo, e mesmo o PCP, corre, neste momento, o risco de ficar reduzido a mínimos, elegendo dois ou três deputados e antecipando um desaparecimento próximo do Parlamento.
PSD deixou de falar em substituir Montenegro
Já não é só discurso de campanha eleitoral. No interior do PSD e da AD, já ninguém coloca o cenário de Luís Montenegro não ganhar as eleições. A dúvida é saber qual vai ser a margem dessa vitória e qual a relação de forças no Parlamento depois de contados todos os votos. No interior da coligação há mesmo quem tema que no dia 11 não se possa ter ainda um cenário preciso. As contas sobre como se farão maiorias em São Bento podem ter que esperar pela contagem de votos nos círculos da Europa e do resto do mundo. Se assim for, contas finais e respetivas leituras políticas precisam de aguardar mais uma semana pelo menos.
Em qualquer caso a AD prepara-se para enfrentar um cenário semelhante ao que ocorreu nos Açores e, assim sendo, vai apresentar ao Presidente da República uma solução de governo minoritário em acordo de governo ou parlamentar com a Iniciativa Liberal. A aposta é forçar Pedro Nuno Santos a cumprir a promessa de não inviabilizar o governo AD/IL, tal como prometeu no início da campanha eleitoral. Depois, é deixar correr o tempo político e ganhar trunfos para se e quando houver eleições antecipadas. Montenegro aposta numa maioria absoluta caso a esquerda decida deitar o seu governo abaixo.
Socialistas apreensivos já falam no pós Pedro Nuno
Apesar das mensagens confiantes que Pedro Nuno Santos continua a transmitir na campanha, a verdade é que a máquina socialista não espera uma vitória e teme pela dimensão do rombo que os resultados do próximo domingo venham a fazer ao partido que está no Governo há oito anos.
A confirmar-se uma derrota, os cenários para o dia seguinte dos socialistas dependem muito dos resultados finais. Se for uma derrota honrosa, semelhante ao que aconteceu com Ferro Rodrigues que teve que enfrentar em muito pouco tempo umas eleições antecipadas depois da demissão de António Guterres, ninguém colocará em causa a liderança de Pedro Nuno Santos, tal como aconteceu em 2002.
Cenário diferente se colocará se a derrota for pesada, abaixo dos 25%. Nessas circunstâncias é praticamente inevitável que se abra uma discussão sobre a liderança e nos bastidores socialistas já há nomes a circular.
José Luís Carneiro estará a ser pressionado para tomar uma decisão logo nas primeiras semanas, para impedir que se crie a perceção de que o PS fica fora da corrida em próximas eleições. O próprio não estará com vontade de enfrentar Pedro Nuno antes das europeias que estão marcadas para junho. Só depois dessas eleições, e a confirmar-se nova derrota, é que o ainda ministro da Administração Interna admite desafiar a liderança de Pedro Nuno Santos.
José Luís Carneiro não quer ver-se na situação em que António José Seguro se viu quando sucedeu a José Sócrates e teve que liderar o partido com uma bancada parlamentar que lhe era hostil e que acabou por ser determinante para o derrubar. Essa memória conta muito nas contas que Carneiro poderá fazer num cenário pós eleitoral. A seu favor, o homem que foi a votos nas últimas eleições internas e conseguiu um terço dos votos, tem o facto de ter negociado com Pedro Nuno Santos uma representatividade equiparada na futura bancada socialista. Mas quem está a fazer as contas aos deputados que os socialistas podem ou não eleger, admite a possibilidade de que a bancada fique desequilibrada com alguma probabilidade de nas contas finais os apoiantes de José Luís Carneiro ficarem com maior peso. São contas para fazer com muita atenção depois dos votos apurados e que terão peso numa decisão de desafiar a liderança. É que ao contrário do que aconteceu com Seguro, os socialistas sabem que o mais provável é a próxima legislatura não chegar ao fim e é preciso estar preparados para nova ida às urnas.
Pedro Marques, Ana Catarina Mendes, Fernando Medina e Marcos Perestrelo são outros nomes de que se fala para a sucessão em caso de derrota do PS.