António Costa garante que não está a pensar nas eleições, mas ninguém esconde que a reação do Governo à greve dos motoristas pode ter efeitos nas eleições legislativas que se realizam no dia 6 de outubro.
“Não podemos ter considerações eleitorais quando está em causa a segurança das pessoas”, disse o primeiro-ministro, que durante este fim de semana fez diversas declarações sobre a greve com a garantia de que o Governo não deixará de dar os passos necessários para que o conflito não tenha “consequências indesejáveis para a vida dos portugueses”. A dois meses das legislativas, o Governo está a gerir este processo com pinças. O Presidente da República, noticiou o jornal Público, está preocupado com os efeitos políticos do protesto e admite que a resposta firme do Governo possa cativar o eleitorado de direita. Marcelo já tinha alertado os motoristas para que “a generalidade dos portugueses” pode deixar de se identificar com esta “luta”.
Mas será que a greve poderá mesmo influenciar o eleitorado? António Costa Pinto, politólogo, explica ao i que “é incerto” o impacto do protesto nas eleições e que tudo depende da “eficácia da resposta governamental”. Costa Pinto diz que o eleitorado de esquerda tem mais tolerância com as greves e os eleitores que se identificam com valores de direita valorizam mais a ordem pública. Uma reação mais firme fará com que “aqueles que se situam à direita” se sintam “identificados com o Governo”, diz o investigador, acrescentando, porém, que tudo depende da duração da greve. O Governo “ganhará se conseguir ter uma resposta rápida e eficaz, mas é mais incerto se a greve se prolongar e existirem alguns conflitos”, concluiu o politólogo. Marques Mendes, no seu habitual comentário na SIC, considerou mesmo que António Costa está a gerir esta crise de forma “muito profissional” e isso “pode ajudar o PS a ter maioria absoluta”.
PS apoia resposta firme Os socialistas, ouvidos pelo i, estão satisfeitos com a forma como António Costa está a atuar e acreditam que o Governo não pode deixar de dar “uma resposta firme e coordenada” ao protesto dos motoristas. “Se as coisas ficarem resolvidas num curto espaço de tempo, o PS poderá ganhar com isso”, diz um deputado socialista, convicto de que “o Governo está a atuar bem e as pessoas reconhecem isso”.
Do lado do PSD, Rui Rio acusou o Governo de “montar um circo. O presidente dos sociais-democratas escreveu, no Twitter, que “se o objetivo fosse tentar resolver o problema, o Governo era mais isento e mais discreto. Não dramatizava nem encenava um circo como o que montou antes das europeias”.
Rui Rui defendeu mesmo o adiamento da greve para depois das eleições e, até lá, tentar-se um acordo. “Parece-me o mais sensato”, escreveu. A proposta do líder do PSD foi alvo de críticas, nas redes sociais, de vários socialistas. “Ainda vai chegar o momento em que a grande ideia de Rui Rio será adiar as eleições. Até o PSD se tornar mais sensato”, escreveu o dirigente do PS, Porfírio Silva.
Aliança condena alarmismo A Aliança, em comunicado, repudiou ontem à tarde “qualquer tipo de aproveitamento político por parte do Governo”. Bruno Ferreira Costa, vice-presidente do partido, condenou “o posicionamento alarmista adotado pelo Executivo e que conduziu à escassez de combustível em diversos postos do país antes do início da greve”.
O partido de Santana Lopes reconhece “o legítimo direito dos motoristas de exigirem melhores condições de trabalho”, mas entende que “o período negocial não se encontrava esgotado, devendo o mesmo decorrer, como previsto, até dezembro de 2019”.