Centristas preparam-se para braço de ferro com Moedas

Centristas recusam perder vereadores numa nova coligação com Moedas. A hipotética entrada da IL nas listas obriga a repensar lugares, mas o CDS recusa-se a ser ‘o custo de oportunidade’.

É uma dor de cabeça que espera Carlos Moedas quando chegar a hora de compor a coligação com que se vai apresentar nas autárquicas de setembro/outubro do próximo ano. Em cima da mesa está a hipótese de alargar a coligação atual, PSD/CDS/PPM à Iniciativa Liberal. A inclusão da IL, que falhou nas últimas autárquicas pode agora tornar-se realidade, mas para o conseguir Moedas vai ter de colocar membros do partido em lugar elegível, e a manta é muito curta para satisfazer os três partidos: PSD, CDS e IL.


Ainda antes de se fazerem contas, os centristas já avisaram que não estão dispostos a sacrificar os três vereadores que agora têm, no conjunto dos sete que Moedas conseguiu eleger. Confortáveis na coligação que têm em Lisboa, o CDS não quer permanecer «a qualquer preço». Fonte centrista diz ao Nascer do SOL que o partido não pode ter medo de ir a eleições sozinho e que não se pode transformar «nos verdes da CDU». Manter a representação nas listas de Moedas é portanto para os centristas uma questão de honra, o partido «recusa-se a ser o custo de oportunidade da Iniciativa Liberal que vale muito menos do que nós em autárquicas».


A manter-se esta posição dos centristas, Carlos Moedas vai ter de fazer um exercício difícil, mesmo admitindo que possa eleger mais vereadores do que os que tem atualmente (4 do PSD e 3 do CDS). A Câmara de Lisboa elege 17 vereadores e em 2021 Carlos Moedas ganhou à tangente e só conseguiu eleger 7 vereadores. Na altura a base de negociação com o CDS, tinha como pressuposto que os centristas tinham ultrapassado o PSD nas autárquicas de 2017, com Assunção Cristas. Foi essa a razão pela qual se justificava um entendimento quase paritário com os sociais democratas na lista apresentada.


Numa nova candidatura, Moedas quer reequilibrar as forças e para abranger a IL não quererá retirar lugares ao PSD, alegando que entretanto o CDS perdeu representação. Erro de cálculo dizem os centristas, «não há nenhuma base para tirar essa conclusão, queremos estar na coligação mas não a qualquer preço».

Guerra de nomes tambémdivide PSD e CDS


Quando a coligação Novos Tempos encabeçada por Carlos Moedas foi negociada, o CDS era liderado por Francisco Rodrigues dos Santos. Na altura, os nomes indicados para integrarem a lista, foram uma escolha pessoal do líder, que decidiu colocar Filipe Anacoreta Correia como número um da lista centrista e candidato a vice-presidente de Moedas. Agora, passados quatro anos, os tempos são outros no Largo do Caldas e a direção de Nuno Melo não quer manter Anacoreta na lista dos nomes indicados pelo CDS.


O próprio Anacoreta Correia, em entrevista esta semana ao nosso jornal, foge à questão de voltar a integrar a coligação e garante que continua a militar no CDS «não houve nenhuma alteração na minha relação com o CDS nos últimos três anos, criou-se uma figura do chamado militante não ativo na qual me encaixo. Tenho a minha atividade suspensa e hoje em dia não participo na vida partidária. O meu compromisso partidário passa por cumprir o mandato para o qual fui eleito».


A verdade é que Moedas gostaria de poder contar com o atual vice-presidente num próximo mandato, mas se o quiser fazer, não será na quota do CDS diz-nos fonte centrista que levanta dúvidas sobre se Anacoreta ainda faz parte do partido.


Em sentido contrário, o nome de Diogo Moura, ex presidente da concelhia do CDS de Lisboa (que integrou o executivo de Moedas e suspendeu o mandato por ser acusado de fraude eleitoral numas eleições partidárias), prepara-se agora para reassumir o lugar, depois de o tribunal ter chegado à conclusão que a lei não pune fraudes em eleições partidárias. Numa carta recentemente enviada ao executivo municipal, Diogo Moura pede uma extensão da suspensão de mandato até ao final deste ano, preparando-se para reassumir o lugar já no início de 2025. É uma reentrada que, dizem fontes municipais, não agrada a Moedas. Em causa está o facto de se considerar que o regresso de Diogo Moura será prejudicial ao Presidente da Câmara em ano de autárquicas, «vão passar o tempo a perguntar-lhe se apoia o vereador que só não foi condenado porque a lei é omissa no ponto das eleições partidárias, e não porque não seja culpado dos factos».


A piorar a situação, o CDS prepara-se para indicar o nome de Diogo Moura como candidato nas listas de uma nova coligação. Moura tem um longo currículo autárquico na capital e domina há muitos anos os militantes lisboetas. Agora que está livre de processos judiciais, não quer perder a oportunidade de retomar as funções de vereador da economia e da cultura, e de se preparar para um novo mandato. Resta saber como vão decorrer as negociações e qual o nível de tolerância de Moedas para as exigências do CDS.