André Ventura: ‘Este António Costa é o mesmo do processo Casa Pia’

A prioridade do Chega é acabar com a corrupção e varrer os corruptos da Administração Pública, explica André Ventura em entrevista ao Nascer do SOL.

Como avalia a situação política atual, precipitada por um processo que, para alguns, parece menos grave do que inicialmente o Ministério Público fez parecer? Se, afinal, e como afirma o juiz de instrução, os principais indícios não forem sólidos?
Não seria, não seria positivo. Eu espero, pelo menos, que o Ministério Público faça aqui um trabalho sólido, independentemente de depois haver condenados ou não. Porque, se eles não são culpados, eu não quero que sejam condenados por isso. Quero é que me mostre as provas que têm com solidez. Relembro que este é só um elemento, o Data Center, ainda há a questão do lítio e do hidrogénio e, portanto, vamos ver o que é que isto tem primeiro, e depois fazer a avaliação, em vez de entrarmos num ataque à Justiça que parece o caso Casa Pia de Lisboa. E isso é que me preocupou mais na declaração do primeiro-ministro. Eu sempre achei que políticos envolvidos em processos a primeira coisa que têm de fazer é dar explicações – pouco me importa se são arguidos, acusados, importa dar uma explicação. E eu esperava que fosse isso que António Costa fosse fazer. E, quando vi que ele ia falar, pensei: vai-nos explicar.

E achou bem que o tivesse feito na Residência Oficial do primeiro-ministro?
Eu acho que sim, porque ele está envolvido como primeiro-ministro e, portanto, esperei que viesse dizer isto é falso, isto nunca aconteceu, esta é a minha versão. Mas o que fez foi um ataque à Justiça. É incrível querer passar a ideia de que o Ministério Público estava a atuar para condicionar o investimento estrangeiro em Portugal, quando ele sabe perfeitamente que o que está em causa são pressões a autarcas para mudar, para contornar a lei e a influência sobre ministros para levarem a cabo políticas ilegais, atos ilícitos, isso está na indiciação. António Costa é jurista, ele foi ministro da Justiça, ele não tem a desculpa que outros têm. Ele sabe bem o que é que eu estou a dizer e, portanto, ele não fez muito diferente do que fez Ferro Rodrigues, no caso Casa Pia, e do que fez José Sócrates…

O próprio António Costa também teve uma intervenção no processo Casa Pia…
Portanto, só me dá razão. No último debate que tive com ele na RTP, antes das legislativas, ele atacou-me com várias coisas, é o normal em política. E, no fim, ele teve azar e ficou sem tempo, e  disse-lhe: apesar de ter sido ministro da Justiça, o seu currículo na Justiça não é muito bom. Eu sei que foi ministro, mas está pelo YouTube todo. Basta ir lá e ouvir o que o senhor tentou fazer no processo Casa Pia, perseguindo pessoas, desvalorizando a Justiça, procurando condicionar o Ministério Público, você não tem currículo. Mas pensei que isso tinha passado, afinal, este António Costa é o mesmo do processo Casa Pia de Lisboa, não perdem estes vícios antigos de ir atrás da Justiça. Nós não vamos fazer disto campanha.

Vão usar isto para campanha?
Não, nós não fazemos política em cima destes casos. Mas vou recordar aos portugueses que há em Portugal um partido que não perde o vício de condicionar a Justiça, o Partido Socialista.

E não vão falar das acusações de corrupção e tráfico de influências?
Repare, nós primeiro vamos conhecer melhor os factos. No processo de justiça, a única coisa que podemos saber é o que é que está em causa. E também já sabemos algumas coisas, que estavam 75.000 € ou 80.000€ em garrafas de vinho e em livros. É uma questão de prestígio das instituições. Nós, como políticos, temos que dizer às pessoas, dar um esclarecimento e a única coisa que eu ouvi foi: peço desculpa pelo dinheiro que estava em caixas de vinho e livros no meu gabinete. Isto não é a forma de fazer política. E, portanto, António Costa prestou um péssimo serviço ao seu país. E eu até tenho pena que ele continue. António Costa já devia ter ido embora e devia ter permitido ser substituído, nestes últimos meses, por outra figura qualquer.