A pobreza afeta hoje uma parte considerável da população portuguesa (pelo menos dois milhões) e a classe média luta desesperadamente para fugir a esse destino.
Na Espanha de 2023, como em Portugal em 2015, o correto e saudável era que os vencedores governassem e as oposições se dedicassem ao escrutínio leal e permanente das políticas aplicadas pois isso é tão útil como o exercício do poder em beneficio dos cidadãos.
Estar a atacar a política monetária do BCE que é dirigida a toda a Zona Euro, onde existe uma moeda de uso comum, para lá de revelar ignorância, é um profundo disparate.
O Governo refugia-se no sucesso passageiro de algumas variáveis económicas como o crescimento do PIB, a redução da dívida, a diminuição do desemprego (em via de inversão) e a expansão das exportações baseada, ironicamente, na adaptação das empresas ao ajustamento orçamental imposta pela troika.
Em vez da comédia dos cartazes, o ‘spin’ do Governo deve orientar-se para o robustecimento e valorização das políticas públicas no respeito e ao encontro das necessidades dos portugueses.
Em vez do socialismo liberal, inscrito na Constituição e que Mário Soares sempre protagonizou, criou-se uma espécie de ‘socialismo de miséria’ que afeta muitos cidadãos e, em especial, a tal classe média.
A ideia de que ‘a Liberdade deve ser livre’ não é uma tautologia nem um lugar comum, pois é fácil perceber que podemos ter a ‘boca cheia’ do conceito (cumprir Abril, dizem pateticamente alguns), como podemos ter normas constitucionais e legais que a consagrem, mas nunca teremos verdadeira liberdade, se não usufruirmos de políticas sociais…
A situação é hoje insustentável, porque baseada em mentiras e omissões, e não há manobra de propaganda, por mais eficiente que seja, que oculte a realidade.
O país tocou no fundo, a divergência com a UE aprofunda-se, o futuro é cada vez mais incerto e a desconfiança dos eleitores nos eleitos atingiu o pico mais elevado
A política governamental devia apoiar os cidadãos mais vulneráveis através de subsídios, bonificações, adaptação de contratos de empréstimos e política de rendimentos
A insólita atitude da política Luísa Salgueiro também é um exemplo da degradação crescente do nosso sistema democrático
Viveram-se sete anos de ilusão, que até permitiram a conquista eleitoral de uma maioria absoluta, mas essa ilusão nunca foi a consequência de políticas internas verdadeiramente reformistas e progressistas, mas antes o resultado da gestão monetária do BCE e do apoio, mal aproveitado, dos apoios financeiros da União Europeia.
A estabilidade política é um valor essencial para o progresso e harmonia das sociedades, mas há momentos em que se torna imperativo dizer ‘Basta’!
Se na primeira entrevista de António Costa, a boa nova era apresentada com arrogância e mesmo como ameaça, na segunda o compromisso foi suave e cheio de promessas…
Esgotado o período patético do karma salvador ‘a culpa é do Passos’ e estando em vias de esgotamento a eficácia da utilização do medo do Chega e do fascismo (?) que lhe querem associar, seria o tempo de prestar contas
Agora, em 2023, ano de desafios incomensuráveis seria necessária uma governação estável, proativa, ajustada aos novos desafios mundiais e orientada para que o país pudesse sair dos últimos lugares no ranking de desenvolvimento das nações europeias.
Os movimentos que atualmente parecem encostar as democracias europeias ao lado direito do espetro doutrinário não representam, na maioria dos casos, mais do que essa simples dinâmica de um movimento natural a caminho do um novo equilíbrio e de um renovado contrato social.
A encenação burlesca usada na apresentação das últimas medidas de caráter social, para travestir um corte brutal de pensões de 1000 milhões de euros é um exercício criticável e especialmente reprovável
Nas circunstâncias atuais não será muito correto, exigir uma intervenção com maior fôlego financeiro, embora o volume de fundos alocados seja pouco mais de um terço do excesso das receitas fiscais